Título: Comunidade open-source é azeitada e alcança a ordem em meio ao caos
Autor: André Machado
Fonte: O Globo, 02/05/2005, Informática, p. 1

Os desenvolvedores brasileiros de software aberto hoje são profissionais

O motivo para tão poucos usuários finais entre o público doméstico é mesmo a falta de maturidade dos ambientes gráficos. Segundo o estudo, o low-end será um dos últimos filões a serem contemplados pelo software livre. Em compensação, na parte empresarial o quadro é bem mais animador. Grandes (e médias) empresas ¿ em especial os setores de TI, governo, comércio, educação e comunicação ¿ estão usando software aberto. Sessenta e quatro por cento delas têm faturamento maior do que R$1 milhão por ano e 65%, mais de 99 funcionários.

O principal motivo para usar SL: economizar dindim

A motivação para usar SL/CA, naturalmente, passa a uma bela distância da ideologia do software livre. As empresas querem primeiro cortar despesas e depois incrementar suas habilidades técnicas ao trabalhar com diferentes sistemas operacionais. Entre as usuárias do Linux (notadamente na parte de infra-estrutura) estão nomes como Petrobras, Itaú, Embrapa, Metrô (de SP), Pão de Açúcar e multinacionais como Wal-Mart e Carrefour. Ainda assim, o Windows continua a ganhar em número de servidores no país: são 60% contra 12% de servidores Linux. Em termos de navegador internet, então, o mundo das janelas ainda ganha de goleada nos números: são 88,9% de Internet Explorers mundo afora, contra 7% de Mozilla. Por outro lado, se em 2003 o Linux respondeu por 9% do mercado mundial de sistemas operacionais, a estimativa é de que até 2007 alcance os 18%.

Já as empresas desenvolvedoras de software livre são de três tipos: as fundadas nos anos 80 e 90, antes concentradas no mundo proprietário, mas que mudaram para o livre por exigências do mercado; algumas mais recentes, já voltadas para o mundo SL/CA; e grandes multinacionais que ingressaram neste ecossistema (como a IBM). Também estão neste universo as empresas públicas de processamento de dados.

O perfil dos desenvolvedores brasileiros surpreendeu os pesquisadores. Segundo Giancarlo, eles são muito qualificados e a comunidade trabalha de modo eficaz, apesar de ser um modelo de ordem dentro do caos.

¿ Existe um conceito de ¿coopetição¿ dentro dessas comunidades, que são muito bem organizadas. Eles cooperam no desenvolvimento de um software, mas também buscam sobressair-se, querem ser os melhores em sua participação. Porque ela é como uma vitrine para o programador ¿ diz.

No início, eram os micreiros que programavam em software livre. Hoje, diz a pesquisa, isso fica a cargo de profissionais. A maior parte do código-fonte é elaborada, hoje, por programadores empregados em grandes empresas como a própria IBM. Claro, há disparidades significativas entre o perfil dos programadores brazucas e os programadores da comunidade internacional. A principal delas é o nível de escolaridade. Enquanto no Primeiro Mundo 70% dos desenvolvedores têm nível superior, aqui essa porcentagem cai para 42%. Lá, portanto, há mais engenheiros de software; aqui abundam técnicos e administradores de rede.

Geograficamente, a turma do software aberto se concentra nas regiões Sul e Sudeste. Especialmente no Rio Grande do Sul e em São Paulo. Estão nessas regiões 84% dos usuários individuais do pingüim e outros sistemas e 78% dos desenvolvedores individuais. Também se encontram aí 85% das empresas usuárias e 81% das empresas desenvolvedoras.

Há mesmo desenvolvedores de software proprietário que dedicam uma pequena parte de seu tempo a trabalhar com software open-source. Mas quem bota mesmo a mão na massa são os programadores avançados em SL, que dedicam 40 horas semanais a ele e costumam liderar os projetos.

Para Giancarlo, o estudo vai ser um recurso precioso para avaliar melhor as áreas em que o SL é bem-sucedido.

¿ Ele pode ter amplos impactos sociais, como na inclusão digital e no e-gov. Prefeituras descapitalizadas, por exemplo, conseguiram se informatizar usando o software livre ¿ explica, lembrando que licença livre não é só a GPL do Linux. ¿ É preciso lembrar que há uma plêiade de licenças que permitem usar o código de diversas maneiras, até mesmo fechando-o para determinados fins. [Quem pensou em Creative Commons ganha um doce.]

Uma ferramenta estratégica para dar um gás à indústria

Para o secretário de Políticas de Informática do Ministério da Ciência e Tecnologia, Marcelo Lopes, o mais relevante é a possibilidade de fazer negócios com SL para atingir as metas da política industrial.

¿ Ele tem grande aplicabilidade quando é embedded (seja num telefone celular, reduzindo custos de licenças de aplicativos, ou na área de bens de capital, para diminuir custos do produto final em eletrônica de consumo). O software livre é uma ferramenta estratégica para uma política pública que torne esses setores mais competitivos.

Isto não significa que o software proprietário esteja fora da jogada.

¿ Pelo contrário, a pesquisa deixa claro que o SL é mais uma possibilidade dentro do escopo do desenvolvimento de software, onde há espaços tanto para sistemas abertos quanto proprietários ¿ diz Marcelo.

MS: USUÁRIOS DEVEM SER LIVRES PARA ESCOLHER, na página 4