Título: DECISÃO DA OMC SOBRE AÇÚCAR PODE AJUDAR EM ACORDO ENTRE MERCOSUL E UE
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 30/04/2005, Economia, p. 38

Embaixador defende negociação do bloco do Cone Sul com os EUA

A vitória brasileira na Organização Mundial do Comércio (OMC), que obrigará os europeus a reduzirem os subsídios e o volume de exportações de açúcar, pode ajudar na negociação do acordo de livre comércio entre Mercosul e União Européia. A afirmação é do embaixador Régis Arslanian, diretor do Departamento de Negociações Internacionais do Ministério das Relações Exteriores. Segundo ele, o açúcar é uma das prioridades do Brasil nas discussões com o bloco europeu, mas até agora não fora incluído em qualquer oferta:

- Um dos grandes pleitos que o Brasil, principalmente, e o Mercosul têm na negociação com a UE é o açúcar. Eles nos ofereceram uma cota de um milhão de toneladas de etanol, mas precisamos também de uma quantidade de açúcar. A vitória na OMC pode ajudar.

O Órgão de Apelação da OMC decidiu quinta-feira que a UE terá de limitar a proteção ao açúcar, seguindo regras fixadas por eles próprios em 1994. As restrições impedem que o Brasil exporte US$400 milhões por ano do produto, calcula a União da Agroindústria Canavieira de São Paulo (Unica).

Amorim e o novo secretário americano se encontram

Responsável pelas negociações para a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e para o acordo Mercosul-UE, Arslanian participou de evento sobre o tema ontem, na Associação Comercial do Rio. Dias depois do encontro da secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no qual os dois se comprometeram a retomar o diálogo sobre a Alca, o embaixador anunciou que o Brasil está interessado em acelerar as negociações do acordo do Mercosul com os EUA.

Uma decisão neste sentido, disse Arslanian, pode sair do primeiro encontro entre o chanceler brasileiro, Celso Amorim, com o secretário de Comércio americano, Rob Portman, aprovado ontem pelo Senado dos EUA. Eles devem se encontrar na próxima segunda-feira, em Paris, para decidir os rumos das negociações para a Alca, emperradas devido ao excesso de propostas (serviços, investimentos, compras governamentais e propriedade intelectual) incluídas num acordo que deveria ser apenas de acesso a mercados.

Os EUA têm resistido a dar início às negociações bilaterais com o Brasil e seus parceiros de Mercosul, embora esteja negociando isoladamente com outras nações. O Brasil, da mesma forma, tem dialogado com países da comunidade andina, do Caribe e com o Canadá, e dará início às negociações para o livre comércio com o México ainda este mês. Arslanian não acredita que a negociação bilateral trará prejuízos à Alca por tratar-se de uma negociação de acesso a novos mercados.