Título: CHINA E NACIONALISTAS SUPERAM RIVALIDADE
Autor: Gilberto Scofield Jr.
Fonte: O Globo, 30/04/2005, O Mundo, p. 42

Líder chinês e chefe do Kuomintang selam com aperto de mão fim de inimizade que levou à guerra civil nos anos 40

PEQUIM. Numa transmissão de TV ao vivo para todo o país e também para Taiwan, o presidente da China e secretário-geral do Partido Comunista Chinês (PCC), Hu Jintao, e o presidente do partido Kuomintang (KMT), Lien Chan, encontraram-se ontem no Grande Salão do Povo, em Pequim, e trocaram um histórico aperto de mão. Representantes máximos de partidos que um dia foram inimigos mortais um do outro, os dois prometeram esforços para acabar com o movimento independentista da ilha de Taiwan.

Última reunião entre líderes dos dois lados foi em 1945

Os líderes dos dois partidos não se encontravam em um ambiente tão cheio de pompa desde 1945, quando o líder do Kuomintang na época, Chiang Kai-shek, e o presidente do PCC, Mao Tsé-tung, realizaram uma reunião em Chongqiing para tentar negociar uma trégua em suas divergências após a rendição do Japão e o fim da Segunda Guerra Mundial.

O acordo não ocorreu e adeptos dos dois partidos mantiveram uma sangrenta guerra civil que durou até 1949, quando Chiang Kai-shek e os nacionalistas do KMT fugiram para Taiwan, criando ali um país apoiado pelos EUA.

- Este é um encontro histórico entre os líderes dos dois partidos. O passo histórico não apenas marca uma nova fase no desenvolvimento das relações entre os partidos, mas também mostra nossa intenção de sincera melhora nas relações entre a China e Taiwan - afirmou Hu Jintao em transmissão de TV para todo o país.

Lien Chan, presidente de um Kuomintang que em nada se parece hoje com o antigo partido nacionalista, respondeu:

- Na base da boa vontade e da confiança nós devemos evitar o confronto. O que nós queremos é reconciliação e diálogo.

KMT bandeou-se para o lado da reunificação

O KMT é hoje um dos principais defensores da reunificação de Taiwan com o continente, uma fórmula considerada pragmática de se beneficiar das altas taxas de crescimento chinesas.

Pequim oferece a Taiwan pacote de benefícios

Taipé rejeita iniciativa alegando que China ainda ameaça a ilha

PEQUIM. Na sua estratégia de isolar politicamente o presidente de Taiwan, Chen Shui-bian, que condenou a recentemente aprovada lei anti-secessão da China, que permite o uso da força caso Taipé insista em declarar independência, Hu Jintao ofereceu a Lien Chan um acordo que inclui a redução dos impostos de importação dos produtos taiwaneses, a abertura de diálogo militar entre o continente e a ilha e mais abertura diplomática.

Mas este acordo terá de ser aprovado por Shui-bian para entrar em vigência, o que parece improvável.

- O Exército chinês ainda ameaça a vida dos taiwaneses e o país não poupa esforços em isolar Taiwan da comunidade internacional - alegou Joseph Wu, presidente do Conselho de Assuntos Chineses de Taiwan.

Os EUA, que com o Japão formam a dupla aliada mais forte da ilha, louvaram a iniciativa de Lien Chan, mas pediram que a China busque se aproximar também de Shui-bian e de seu Partido Progressista Democrático (PPD).

- Qualquer solução de longo prazo para o conflito tem de passar pela negociação com a liderança eleita de Taiwan - disse o porta-voz da Casa Branca, Scott McClellan. (G.S.)

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BOXE EXPLICATIVO

A longa briga KMT-PCC

O Kuomintang (KMT) foi fundado em 1912 com um programa de socialismo moderado e democracia parlamentar sob a liderança de Sun Yat-sen. Embora com maioria na Assembléia Nacional, o KMT foi banido em 1913 e organizou governos revolucionários em Cantão em 1918 e 1921. Em 1927, o KMT rompeu com o Partido Comunista da China (PCC), fundado em 1921, começando a guerra civil. Em 1928, o líder nacionalista Chiang Kai-shek capturou Pequim e recebeu reconhecimento diplomático para seu governo.

Campanhas militares de sucesso forçaram os comunistas de Mao Tsé-tung a se retirarem para o noroeste do país na Grande Marcha em 1934-35. Em 1937, os dois lados suspenderam as hostilidades para lidar com a invasão japonesa e voltaram a se enfrentar numa guerra aberta em 1945 após a capitulação do Japão. Em 1949, os comunistas expulsaram o KMT para Taiwan e passaram a governar a China.