Título: André Luiz é cassado
Autor: Maria Lima
Fonte: O Globo, 05/05/2005, O País, p. 3

Pressão popular leva deputados a tirar mandato de colega acusado de pedir propina

Um dia depois da absolvição do presidente do PP, Pedro Corrêa (PE), por uma decisão da Mesa, o plenário da Câmara cassou o mandato do deputado fluminense André Luiz (sem partido), acusado de tentar extorquir R$4 milhões do empresário de jogos Carlinhos Cachoeira, para livrá-lo na CPI da Alerj. Com 311 votos a favor, 104 contra, 33 abstenções e três votos em branco, a Câmara puniu André Luiz numa reação à pressão da opinião pública e dos deputados, que temiam o desgaste de uma eventual absolvição. O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, e seu partido, o PP, declararam voto favorável à cassação.

¿ A cassação será a prova de que a Câmara não quer proteger quem fere princípios éticos e morais ¿ disse Severino, antes da votação.

Logo depois de sua eleição para a presidência da Câmara, Severino recebeu em sua casa André Luiz, que buscava apoio para evitar a cassação.

¿ Se a Câmara não o cassar, nós é que seremos cassados ¿ disse José Carlos Aleluia (PFL-BA).

André Luiz é a segunda baixa provocada por Cachoeira, que, com as gravações comprometedoras, já derrubou o ex-assessor da Casa Civil Waldomiro Diniz. Na vaga de André Luiz assumirá o tucano Márcio Fortes.

No início da sessão havia o temor de que o quórum baixo beneficiasse André Luiz, já que seriam necessários no mínimo 257 votos a favor do relatório que pedia a cassação. Mas com um quórum bem alto, 452 deputados votaram em cabines, em cédulas de papel para marcar sim ou não.

¿ Está decretada a perda de mandato do deputado André Luiz ¿ anunciou o primeiro-secretário Inocêncio Oliveira, após seis horas de votação.

André Luiz usou todas as armas para impedir a cassação. Fez ameaças, insinuando ter fitas comprometedoras envolvendo parlamentares do Rio, que teriam pedido dinheiro a Cachoeira. Mas essa tática despertou uma reação contrária e irada dos deputados.

Relator fala em ameaças de morte

Segundo o relator do pedido de cassação, Gustavo Fruet (PSDB-PR), houve até ameaças de morte. André Luiz disse que faria revelações. E também afirmou ter visto uma fita que envolveria outros parlamentares com Cachoeira, acrescentando que ela estaria em poder do procurador da República José Roberto Santoro.

¿ É uma gravação com uma filmagem mostrando deputados do Rio conversando com Cachoeira, pedindo dinheiro, falando de esquemas do Rio, de indicações para a presidência da Loterj. Não sei se vai aparecer, mas já vi o material ¿ disse André Luiz.

Seu alvo principal é o ex-bispo da Igreja Universal Carlos Rodrigues (PL-RJ). Segundo Fruet, em 3 de março, quando apresentou seu parecer, Rodrigues foi a seu gabinete transtornado, pedir-lhe que não recomendasse a cassação, mas apenas uma suspensão. O ex-bispo disse ao relator que as gravações em que aparece falando em dinheiro com André Luiz referem-se à transação para venda de uma casa:

¿ Se cassarem o André Luiz ele vai me matar! ¿ implorou Rodrigues.

¿ Se o senhor que foi bispo está nessa situação, imagina o que vai acontecer comigo, que não fui nem sacristão ¿ brincou o relator.

André Luiz fez um discurso duro, com novas insinuações.

¿ Recebi informações do envolvimento de parlamentares e de jornalista com uma grande empresa. Mas só falo disso semana que vem.

Mesmo com uma declaração do ex-governador Anthony Garotinho, negando que estivesse trabalhando contra a cassação, aliados seus manifestaram apoio a André Luiz. O deputado cassado Ronivon Santiago (PP-AC) ¿ que continua no posto porque a Mesa não oficializa seu afastamento ¿ cabalou votos contra a cassação.

COLABORARAM Isabel Braga e Valderez Caetano