Título: TUCANOS DESTACAM O VOTO CONTRA DE PETISTAS
Autor: Adriana Vasconcelos e Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 05/05/2005, O País, p. 8

Fernando Henrique lembra que nove ministros do atual governo tentaram evitar aprovação da LRF

BRASÍLIA. Apesar da tentativa da Secretaria do Tesouro Nacional de tirar proveito das comemorações dos cinco anos de sanção da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), numa cerimônia ontem à tarde no auditório do Ministério da Fazenda, os tucanos saíram na frente e fizeram questão de ressaltar a posição contrária do PT quando a proposta foi aprovada no Congresso em 2000. O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso se deu ao trabalho de contar o número de atuais ministros que votaram contra: nove. Entre eles, o da Fazenda, Antonio Palocci, que acabou fazendo um mea-culpa.

¿ Ao ler a lista das votações fiquei um pouco chocado, porque vi que nove ministros do atual governo votaram contra. Inclusive, e eu não queria citar o nome porque gosto dele, o Palocci ¿ lembrou o ex-presidente.

Tucanos distribuíram lista da votação da LRF

Os tucanos distribuíram a lista de votação da Lei Fiscal na Câmara e no Senado, em 2000, durante a solenidade promovida pelo Instituto Teotônio Vilela. E tiveram o cuidado de destacar um a um os representantes do atual governo que ficaram contra. Entre os petistas, além de Palocci, estão: Jaques Wagner (Conselho de Desenvolvimento), Nilmário Miranda (Direitos Humanos), Ricardo Berzoini (Trabalho), Waldir Pires (Controladoria Geral da União), Marina Silva (Meio Ambiente) e o presidente da Petrobras, José Eduardo Dutra. Além dos aliados Eduardo Campos (Ciência e Tecnologia), do PSB; e Aldo Rebelo (Coordenação Política) e Agnelo Queiroz (Esportes), ambos do PCdoB.

A lista destaca os líderes do governo e do PT, Aloizio Mercadante (SP), Arlindo Chinaglia (SP) e Paulo Rocha (PA), e o presidente do PT, José Genoino.

¿ Genoino vivia cobrando de mim austeridade, já em meu primeiro mandato. E nós estávamos segurando a inflação, tentando estabilizar a moeda. Era preciso reconstruir pouco a pouco os zeros da decência no país ¿ ressaltou Fernando Henrique. ¿ Levamos anos construindo a decência no Brasil, a começar pela transparência. Agora vejo que o ministro da Transparência é Waldir Pires, que votou contra a transparência e vem cobrar de mim? Que autoridade moral tem para levantar qualquer dúvida sobre o esforço hercúleo que fizemos?

Para os tucanos, a LRF é um marco do PSDB, que reflete um estilo de gestão responsável implantado por eles. Mas reconhecem que políticos de outros partidos também a adotaram. Fernando Henrique citou o prefeito do Rio, Cesar Maia (PFL). Já o presidente do PSDB, senador Eduardo Azeredo (MG), afirmou que é preciso cobrar dos integrantes do atual governo o cumprimento das regras estabelecidas pela lei.

Para economista, lei precisa ser aperfeiçoada

O economista José Roberto Afonso, sem se referir diretamente a ex-prefeita de São Paulo Marta Suplicy (PT), disse que a lei precisava ser aperfeiçoada para impedir que administradores cancelem despesas contratadas e empenhadas. E, a exemplo do prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), cobrou que se fixem limites também para o endividamento do governo federal.

¿ Estabelecer limites para a União está previsto, mas não foi feito ¿ disse Serra.

O ex-ministro do Planejamento Martus Tavares, um dos mentores da lei, lembrou que quando ela foi aprovada os petistas afirmaram que era imposta pelo FMI, mas que agora tentam assumir sua paternidade. Já o governador de Minas, Aécio Neves, destacou o ajuste que promoveu nas contas de seu estado. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, relacionou responsabilidade fiscal com ética na política:

¿ Não há governo ético que não busque a eficiência do gasto público. Ninguém tem o direito de comprometer futuras gerações.