Título: FH: `JÁ ESTOU SENTINDO O COMICHÃO DO FUTURO¿
Autor: Adriana Vasconcelos e Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 05/05/2005, O País, p. 13

Ex-presidente critica Lula e a taxa de juros, mas diz que não é candidato e cita Alckmin, Aécio e Marconi Perillo

BRASÍLIA. O PSDB entrou ontem na campanha sucessória fazendo apologia da responsabilidade fiscal e, ao mesmo tempo, criticando o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pela antecipação do calendário eleitoral. Para o ato de comemoração dos cinco anos de sanção da Lei de Responsabilidade Fiscal os tucanos reuniram seus principais líderes, entre eles os três presidenciáveis do partido: os governadores Geraldo Alckmin (SP), Aécio Neves (MG) e o prefeito de São Paulo, José Serra.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comandou a festa. Com um discurso recheado de farpas ao sucessor, ele defendeu que o PSDB escolha o seu candidato só no fim do ano e disse que está fora do páreo:

¿ O nosso tom não pode ser o da saudade, mas o tom do comichão do futuro. Já estou sentindo. O futuro está aqui presente. Alguém vai ser o nosso candidato e vamos apoiar com energia.

Fernando Henrique afirmou que o Brasil precisa de um caminho novo que ¿responda aos novos desafios que surgiram com a evolução da realidade¿. Ele identificou três pontos que deverão ser encarados pelo candidato como prioridades para um novo governo do PSDB: a reforma política, a segurança pública e a política de juros.

¿ Temos de dar alguma coisa que a população sinta que é passível de ser realizada e que as pessoas que estão falando têm capacidade efetivamente de realizá-las ¿ discursou.

FH: falta de segurança mina a democracia

O ex-presidente afirmou que o problema político mais sério e inquietante é o distanciamento entre os eleitores e seus representantes. Na sua opinião, é preciso encontrar uma forma de unir a sociedade ao Estado novamente. Para isso, ele acha que será preciso fazer para valer a reforma política. Outro desafio será enfrentar a falta de segurança no país, que a seu ver, anda hoje junto com a corrupção e cria uma sensação de impunidade, o que mina a democracia.

Mesmo admitindo não ter uma solução imediata para o dilema criado pela política de juros altos praticada no Brasil, o ex-presidente considera que as autoridades econômicas não têm justificativas técnicas para persistirem neste rumo.

¿ Fico surpreso com a apreensão causada a cada reunião do Copom. O susto em dia de céu azul. Há muito tempo que a economia internacional não é tão brilhante quanto agora. Na América Latina mesmo, o Brasil está crescendo abaixo da média. E cresceu muito. Tudo é favorável e, apesar disso, ainda arrumam argumentos para aumentar a taxa de juros. Alguma coisa está complicada ¿ advertiu.

Mas Fernando Henrique empolgou mesmo a platéia, onde se destacava a presença de líderes do PFL, do PMDB e até mesmo da família Sarney ¿ Sarney Filho (PV-MA) ¿ quando partiu para o ataque direto ao governo Lula.

¿ O Brasil quer que o presidente esteja trabalhando, gerenciando o país e não fazendo promessas futuras. Espero que ele (Lula) não incorra nesse erro ¿ alfinetou.

Ex-presidente diz que PSDB tem muitos candidatos

Sobre a escolha do candidato do PSDB, aconselhou:

¿ Não é hora de lançar candidato. A vantagem do PSDB é que tem muito candidato. Tem o Alckmin, o Aécio, o Marconi Perillo. Só não falo do Serra porque ele está plantado na prefeitura. Não sou candidato. Poder, posso, mas não sou candidato. Não quero ser.

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