Título: Fórum Mundial: Brasil perdeu competitividade
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 14/10/2004, Economia, p. 25
Pela terceira vez consecutiva, o Brasil caiu no ranking mundial de competitividade, divulgado ontem pelo Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês). O país ficou na 57 colocação na edição de 2004, de um total de 104 nações avaliadas, três posições abaixo do resultado de 2003. O Brasil, que em 2002 estava no 45 lugar e em 2001 no 44 lugar, ficou atrás de países como Marrocos, Índia, Uruguai, El Salvador e Namíbia. O ranking foi liderado de novo pela Finlândia, seguida por EUA, Suécia e Taiwan. Classificado na 22 posição, o Chile foi o melhor entre os países da América Latina.
O Índice de Crescimento de Competitividade considera não só condições macroeconômicas de um país, mas também variáveis como qualidade das instituições públicas e progresso tecnológico. É elaborado a partir de dados estatísticos e de uma pesquisa qualitativa junto a líderes empresariais. O Fórum fez este ano mais de 8.700 entrevistas.
Apesar de se referir a 2004, o ranking divulgado ontem é baseado em dados de 2003, primeiro ano do governo Lula, que foi marcado por forte aperto monetário para tentar controlar a inflação. Ou seja, não considera os resultados obtidos com o esforço fiscal deste ano.
Juros e inflação foram as piores influências
Mas o economista-chefe do Fórum, Augusto López-Claros, adiantou que o país ainda carrega uma pesada dívida pública, o que obriga o governo a drenar recursos que deveriam ser investidos em educação e saúde para pagar juros aos bancos. Ele explicou ainda que, pela metodologia usada, um país não é comparado de forma isolada, mas em relação ao restante da amostra. Assim, além de aprimorar seu desempenho, o Brasil teria de torcer para que os demais países não melhorassem tanto.
¿ Tenho consciência dos elogios recentes do FMI ao país. O Brasil melhorou, mas permanece em situação relativamente fraca. O país terá de apresentar superávit por vários anos para conseguir cumprir com as obrigações da dívida pública ¿ diz o economista.
Das variáveis medidas, o Brasil teve a pior avaliação no item ambiente macroeconômico (influenciado por juros e inflação alta), em que ficou na 80 colocação. Em tecnologia, ocupou a 42 posição (com boa pontuação em pesquisa em universidades) e em confiabilidade das instituições públicas, na 50 posição.
O estudo traz uma lista com 14 fatores que impedem o progresso dos negócios no país. Com 20% das respostas, ela é encabeçada pelas reclamações contra a carga tributária. Também foram apontados burocracia, dificuldade de acesso ao capital, infra-estrutura deficiente e corrupção.
O Fórum divulgou também o ranking do Índice de Competitividade de Negócios. De novo, o Brasil perdeu posições. Do 34 lugar em 2003, desceu para o 37 na lista deste ano. A partir de 2005, o Fórum vai unificar os dois indicadores, modificando sua metodologia com a inclusão de novas variáveis. O novo Índice de Competitividade Global vai levar em conta, por exemplo, que fatores de competitividade dependem do nível de desenvolvimento de um país. Se já estivesse valendo, o Brasil apareceria na 49 posição na lista, liderada pelos EUA.