Título: ATENTADO A CURDOS MATA 60
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Fonte: O Globo, 05/05/2005, O Mundo, p. 39

Homem-bomba explode em fila de desempregados e onda de violência aumenta no Iraque

ARBIL, Iraque

Um homem-bomba se infiltrou ontem numa fila de jovens candidatos a ingressar na polícia iraquiana e explodiu, matando cerca de 60 pessoas, ferindo 150 e evidenciando uma intensificação da violência desde que o novo governo eleito foi formado, há uma semana, com promessa de estabilidade. O atentado aconteceu na cidade curda de Arbil, no norte, e foi o mais violento em mais de dois meses. Horas depois, um carro-bomba explodiu em Bagdá, matando nove membros da Guarda Nacional e ferindo 20 pessoas. Outras duas bombas explodiram na capital, matando dois soldados americanos Ao fim do dia, o número de mortos chegava a 71.

No momento em que a violência aumentava no Iraque, uma pesquisa do Instituto Gallup para a TV CNN e o jornal ¿USA Today¿ mostrou que a guerra naquele país é cada vez mais rejeitada nos EUA: 57% dos entrevistados disseram que a invasão não valeu a pena e 42%, que as coisas estão ¿indo bem¿, opinião que em março era compartilhada por 52%.

A explosão em Arbil aconteceu diante do escritório do Partido Democrático do Curdistão (PDC), usado como centro de recrutamento da polícia. Num site na internet, o Exército de Ansal al-Sunna assumiu a autoria do atentado. Em mensagem a Massoud Barzani, líder do PDC, o grupo afirmou: ¿Este ataque que sacudiu seu trono é uma resposta à tortura de nossos irmãos em suas prisões e à milícia curda infiel que se rendeu aos cruzados.¿ Segundo os EUA, o grupo tem ligação com a rede terrorista al-Qaeda.

Testemunhas descreveram cenas dramáticas no local do atentado.

¿ Tudo o que consigo me lembrar é de uma enorme explosão atrás de mim que tirou meus pés do chão. O local parecia um matadouro, com partes de corpos em todo canto, cabeças, mãos, olhos... foi terrível. Os que estão fazendo isto são uns animais, porque isto vai contra o Islã ¿ disse numa cama de hospital Abdul-Razaq Sarmab, de 17 anos, contando que tentava se empregar na polícia.

Vítimas descrevem cenas dramáticas

A explosão destruiu vários carros e danificou prédios. Ambulâncias recolheram pilhas de corpos em poças de sangue. Um médico no hospital al-Jamhouri afirmou:

¿ Pessoas que passavam pela área também ficaram feridas. Estamos tratando de um menino de 10 anos.

Salim Rahman, de 30 anos, ficou surdo de um ouvido.

¿ Não vi o homem-bomba, mas foi uma enorme explosão, que queimou toda a minha roupa. Todos que estavam à minha volta morreram. Foi uma cena horrível de carnificina e corpos desmembrados ¿ disse ele.

Este foi o mais violento atentado no Iraque desde 28 de fevereiro, quando um carro-bomba dirigido por um terrorista matou 125 pessoas em Hilla, ao sul de Bagdá. Aconteceu um dia depois de ministros do novo governo prestarem juramento de posse e três dias depois de um homem-bomba explodir durante um funeral de um funcionário do PDC, matando 25 pessoas, na cidade de Talafar, também no norte. Políticos acusaram rebeldes de tentarem causar uma guerra civil para aprofundar as tensões no país. Líderes iraquianos temem que os ataques ponham curdos e xiitas contra sunitas, que formam a maioria dos militantes. Desde que o novo governo tomou posse, quinta-feira passada, atentados já mataram cerca de 200 pessoas.

O norte do Iraque, de população majoritariamente curda, tem estado relativamente livre da violência dos rebeldes, embora no ano passado escritórios dos dois principais partidos curdos ¿ PDC e União Patriótica do Curdistão (UPC) ¿ tenham sido alvos de atentados suicidas que mataram 117 pessoas. Arbil é sede do governo regional curdo. O PDC e a UPC formam uma coalizão que representou a segunda força nas eleições de janeiro. Perdeu para os partidos xiitas, representantes da maioria da população, que era perseguida por Saddam Hussein. O ditador protegia a minoria sunita, que agora se sente mal representada.

Em Washington, auditores concluíram ontem que o governo americano ¿ por falta de cuidado ou possivelmente fraudulentamente ¿ usou dinheiro destinado à reconstrução do Iraque e gerenciou mal contratos de bilhões de dólares com o mesmo objetivo. Só numa área do Iraque, não foram prestadas contas sobre o uso de quase US$100 milhões. Foram descobertos casos em que empresas contratadas foram pagas duas vezes.

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