Título: CAMPANHA NO IRAQUE PODE CUSTAR VOTO ISLÂMICO
Autor: Charles Kennedy
Fonte: O Globo, 05/05/2005, O Mundo, p. 43

Associação pede a membros que não votem em quem apoiou a guerra

LONDRES. A simpatia tradicional que a comunidade muçulmana na Grã-Bretanha tem pelos trabalhistas pode mudar nestas eleições. A participação do país na guerra do Iraque pode custar votos ao partido de Tony Blair, segundo a imprensa britânica, entre os islâmicos no país, que somam 1,1 milhão de eleitores.

Um sinal dessa mudança, observa o jornal ¿Financial Times¿, foi um incidente no final do mês passado, quando um grupo de 15 homens interrompeu uma entrevista coletiva organizada pelo Conselho Muçulmano da Grã-Bretanha, em Londres, acusando-o de ser ¿lacaio do governo¿.

O conselho manteve postura neutra no período pré-eleitoral, embora fosse cortejado por trabalhistas, conservadores e liberais-democratas. Dos três partidos, apenas o último tinha uma postura claramente contrária à guerra desde o início, o que pode lhe render votos não só de muçulmanos, mas também de trabalhistas decepcionados com a aliança com os EUA na guerra.

A Associação Islâmica da Grã-Bretanha, por sua vez, pediu a seus membros que não apóiem qualquer parlamentar que tenha votado a favor da guerra ou da última legislação contra o terrorismo. Um dos candidatos que podem ser prejudicados é o ministro de Relações Exteriores, Jack Straw, que defendeu a posição do governo na guerra contra o Iraque. Straw disputa uma cadeira pela região de Blackburn e se tornou alvo de uma forte campanha antibélica.

Mohammad Saleen Ajtar, responsável por uma mesquita em Birmingham, declarou à imprensa que os muçulmanos britânicos não estão descontentes apenas com a guerra, mas também com a política externa para o Oriente Médio e a Cachemira.

Mas as opiniões estão divididas e nem todos concordam com um boicote aos trabalhistas. Oito clérigos e líderes islâmicos de destaque publicaram uma carta no ¿Guardian¿ pedindo votos para os trabalhistas, dizendo que, apesar da guerra, o partido conseguiu importantes conquistas para sua comunidade, como fundos estatais para escolas muçulmanas. ¿Percebemos que as eleições não devem e não são decididas apenas por uma questão¿, observaram na carta. Eles destacaram ainda a promessa dos trabalhistas de caracterizar como crime a incitação ao ódio religioso.