Título: A POLÍTICA EM JOGO
Autor:
Fonte: O Globo, 06/05/2005, Opinião, p. 6

A receita da pizza servida na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro não foi adotada pela Câmara, e o deputado André Luiz, do PMDB fluminense, terminou cassado - como teria de ser. Envolvido num balcão de negociatas instalado na CPI da Loterj, na Assembléia, tanto quanto o deputado estadual Alessandro Calazans, ex-PV, André Luiz não teve a mesma sorte do colega da Alerj, inocentado apesar das evidências contra ele.

Se André Luiz sucumbiu por causa de uma gravação, Calazans é protagonista de fita semelhante. Menos blindada contra as pressões da opinião pública, porém, a Câmara federal não se deixou influenciar por ameaças do deputado de abrir supostos arquivos comprometedores, nem por demonstrações de manipulação religiosa.

A Câmara se sintonizou com a sociedade. Mas os políticos não devem considerar que a sua imagem foi resgatada das profundezas da impopularidade na qual mergulhou com os acontecimentos em torno da eleição da Mesa Diretora da Casa, e desdobramentos. Não se deve relegar a segundo plano o fato de, pouco antes da cassação de André Luiz, a Mesa presidida por Severino Cavalcanti ter arquivado processo contra o deputado Pedro Corrêa, presidente do partido de Severino, o PP, e personagem citado em processos e também protagonista de gravações picantes.

Danifica a imagem de todos, Congresso e políticos, o estilo fisiológico que tem presidido os trabalhos na Câmara. Severino Cavalcanti tem sido claro ao cobrar do Planalto o atendimento de pedidos de verbas e nomeações encaminhados por parlamentares como a chave para domesticar o plenário. Trata-se de aula didática de fisiologismo explícito.

O presidente Lula inclui entre os erros do governo as falhas de que resultou a ascensão do baixo clero. Acontecido o desastre, o governo deve ter competência política para evitar a subordinação da pauta de votação no Congresso a interesses de pessoas e grupos. Mas também cabe ao presidente da Câmara se conscientizar da importância do posto que ocupa, entender o sentido da vaia recebida de um milhão de pessoas, domingo, em São Paulo, e também interpretar de forma correta os aplausos pela votação de quarta-feira à noite. O Congresso não pode ser subjugado por esquemas, sejam quais forem.

Cassação de deputado não resgata imagem da Câmara