Título: FEBEM TEM DOIS MOTINS EM MENOS DE 24 HORAS
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Fonte: O Globo, 06/05/2005, O País, p. 12

Menores rebelados na unidade Raposo Tavares, em SP, mantiveram cinco pessoas reféns; funcionário fica ferido

SÃO PAULO. Cinco pessoas foram mantidas reféns na unidade Raposo Tavares da Fundação Estadual do Bem-Estar do Menor (Febem), na Zona Oeste da capital, durante rebelião que durou cerca de três horas, ontem à tarde, e deixou um funcionário ferido. Foi o segundo motim na Febem em menos de 24 horas. Anteontem, 53 pessoas ficaram feridas no Complexo Tatuapé.

Ontem, o segurança João Lopes Ferreira, de 39 anos, foi ferido na cabeça com golpes de machado. Ele foi levado ao Pronto-Socorro do Hospital Bandeirantes, onde está internado. Segundo a assessoria de imprensa da instituição, o tumulto aconteceu por causa de uma vistoria feita nas celas pela tropa de choque da Polícia Militar. Durante a revista, foram encontrados seis celulares, três carregadores e 15 facas artesanais.

A rebelião começou com os 128 internos da unidade 37, às 14h40m. A instituição informou que abrirá sindicância para saber como os celulares entraram no complexo. Os internos, que negociaram o fim da rebelião com a polícia, devem ficar cinco dias sem receber visitas. Foram canceladas todas as atividades especiais programadas para domingo, Dia das Mães.

Os 18 celulares achados anteontem com os internos rebelados na unidade Tatuapé pertenciam a funcionários da instituição. Segundo assessoria de imprensa da Febem, os aparelhos foram roubados dos funcionários. O governador Geraldo Alckmin afirmou ontem que a Febem não está dominada pelos internos.

- Temos 8 mil funcionários. Às vezes, você tem problemas de rebelião e a polícia é chamada. Ela age, contém e vai embora - declarou ele.

De acordo com ele, isso ocorre principalmente em grandes unidades, como o Complexo do Tatuapé. Alckmin afirmou que a instituição caminha no sentido certo, porém os resultados não serão sentidos a curto prazo. Na avaliação do governador, os últimos acontecimentos no Complexo do Tatuapé mostram que o correto é criar unidades menores, regionalizadas, para fazer a ressocialização dos jovens:

- O problema é o excesso no mesmo lugar.

Governador defende desativação de unidade

Para ele, é preciso desativar a unidade, como aconteceu com o Complexo Imigrantes. Durante solenidade em hospital na Zona Sul, o governador reclamou daqueles que só apontam problemas da entidade:

- Tem muita gente para criticar, mas poucos para ajudar e trabalhar. O estado trabalha sozinho.

Alckmin disse que não recebe mais verbas da União:

- O recurso que tínhamos no tempo de Fernando Henrique não veio mais.

Segundo a Secretaria Especial dos Diretos Humanos, vinculada à Presidência da República, não há fundo nacional para repasse de verbas à instituições que cuidam de jovens infratores. São firmados convênios com outras esferas do governo para liberação de verba.

Legenda da foto: POLICIAIS MILITARES da Tropa de Choque de prontidão em frente à unidade da Febem: seis celulares e 15 facas encontradas durante revista