Título: SEDES DE IBAMA E INCRA INVADIDAS NO PARÁ
Autor: Ismael Machado
Fonte: O Globo, 06/05/2005, O País, p. 12

Cerca de 400 trabalhadores rurais protestam contra extração ilegal em reserva

BELÉM. Cerca de 400 trabalhadores rurais mantêm ocupadas, há quatro dias, as sedes do Incra e do Ibama em Conceição do Araguaia. Eles também interditaram a rodovia PA-287, que liga o município de Conceição do Araguaia, no sul do Pará, ao estado do Tocantins. As manifestações são em protesto contra supostas extrações ilegais de madeira na reserva Padre Josimo, iniciadas há cerca de oito meses por madeireiras clandestinas. A reserva concentra um projeto de assentamento do Incra, numa área aproximada de 31 mil hectares.

- Vivemos nessas terras há dez anos, sempre respeitando os limites de exploração. Mas as madeireiras passaram a destruir a reserva, sem sofrer punição - diz o presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Conceição do Araguaia, Francisco Jesus Vieira. Por não terem as denúncias atendidas, os agricultores pedem a saída do executor do Incra no município, Raimundo Marques.

O foco do conflito é área em litígio desde a década de 80. São 70 mil hectares de floresta. Durante anos, cerca de 61 mil hectares pertenceram ao grupo Bradesco. Como punição por crimes ambientais cometidos pelo grupo na época, o governo federal desapropriou, em 1980, cerca de 31 mil hectares, transformados em reserva florestal. Parte da reserva virou projeto de assentamento. Os agricultores pressionam ainda o Ibama para que retire posseiros que ocuparam a reserva e que, segundo eles, não fazem parte do grupo de trabalhadores rurais que teria direito às terras.

Em Conceição do Araguaia, o Ibama diz que o problema está sendo negociado pela gerência do Ibama em Belém. O chefe do escritório em Conceição do Araguaia, Jair de Souza, diz que os agricultores querem fazê-lo de refém, para agilizar as negociações e, por isso, teme retornar ao prédio.

Segundo o Ibama, vários relatórios legitimaram a posse do assentamento para os trabalhadores, mas a reintegração de posse dada pela Justiça precisa do apoio da polícia militar.