Título: INDÚSTRIA REAGE E CRESCE 1,5%
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 07/05/2005, Economia, p. 35
Depois de dois meses de queda, a indústria brasileira voltou a crescer em março e praticamente recuperou as perdas deste ano. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou ontem uma expansão de 1,5% na produção industrial, frente a fevereiro, já descontados os efeitos sazonais. Graças a esse desempenho, a indústria está hoje num patamar apenas 0,2% inferior ao nível recorde de produção alcançado em dezembro do ano passado.
Na avaliação do IBGE, os números mostram que a indústria se estabilizou num patamar elevado. O desempenho de março superou as expectativas do mercado, que previa, em média, uma alta de apenas 0,7%. Os especialistas afirmam que as seguidas altas nas taxas básicas de juros desde setembro já começam a surtir efeito na produção industrial, contendo o seu crescimento. Entretanto, a forte expansão do crédito e o vigor das exportações têm atenuado o impacto dos juros.
Frente a março de 2004, o crescimento da indústria foi de 1,7%. Nessa comparação, já são 19 meses seguidos de alta. O primeiro trimestre de 2005 fechou com um aumento de 3,9% na produção e, nos últimos 12 meses, a expansão alcança 7,6%.
Fôlego menor este ano do que em 2004
O coordenador de Indústria do IBGE, Sílvio Sales, explica que, na comparação com 2004, a indústria vem crescendo a um ritmo mais lento. Por exemplo: nos três primeiros meses deste ano, a alta foi de 3,9%, enquanto o último trimestre do ano passado registrou expansão de 6,3% e no período anterior o crescimento foi ainda maior, de 10,4%.
¿ O quadro geral é desaceleração (crescimento menor), com taxas positivas ¿ resume Sales.
Sales acrescenta que essa perda de fôlego na indústria veio acompanhada de uma mudança no padrão de crescimento. Enquanto em 2004 os destaques foram os bens de capital (máquinas e equipamentos) e bens de consumo duráveis (eletrodomésticos, automóveis e celulares, entre outros), em 2005 o segmento de bens de consumo não-duráveis tem obtido um desempenho acima da média da indústria.
Este setor, que é muito influenciado pelo desempenho da renda dos consumidores, cresceu 5,4% no trimestre, com destaque para a indústria farmacêutica, com alta de 14,8%. A produção de álcool teve aumento de 33,7%, beneficiado pela expansão do mercado de automóveis. Apesar de o rendimento dos trabalhadores ainda não ter registrado uma recuperação consistente, Sales, do IBGE, atribui o bom desempenho do segmento de bens não duráveis a uma maior disponibilidade de recursos para as famílias:
¿ Isso mostra que, ainda que seja via crédito, há mais recursos nas mãos da população.
Ele cita o crédito aos aposentados, que teve forte expansão em sua modalidade consignada, o que poderia ter relação, por exemplo, com a expansão da indústria farmacêutica.
Nos últimos 12 meses, o financiamento a pessoas físicas cresceu 33%, segundo as estatísticas do Banco Central (BC). A ampliação do crédito aliviou o efeito dos juros altos sobre o segmento de bens duráveis, afirma o economista Rafael Barroso, do Grupo de Conjuntura da UFRJ. A produção industrial deste setor continua a pleno vapor, com expansão de 13% no primeiro trimestre deste ano, depois de ter crescido 21,8% em 2004. A indústria automobilística teve aumento de 13,1% nos três primeiros meses deste ano e a de celulares cresceu 65,9%, graças não só ao mercado doméstico como também, neste caso, às exportações, lembra Sílvio Sales, do IBGE.
Na sua análise sobre o resultado da indústria em março, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) destaca que, apesar da valorização do real nos últimos meses, as exportações continuam fortes graças ao crescimento da economia mundial e aos preços favoráveis de produtos exportados pelo Brasil. Se não fosse o comércio exterior, diz o Iedi, o desempenho da produção industrial teria sido pior. O Iedi lembra que a alta de 1,5% em março, frente a fevereiro, foi apenas o segundo mês positivo, nessa comparação, desde setembro de 2004. Nesse período, afirma o instituto, o crescimento médio mensal da indústria foi de só 0,1%.
Economista já vê efeitos do juro alto
Estevão Kopschitz, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), acredita que esse baixo crescimento da indústria nos últimos meses já é, em parte, reflexo da elevação de juros pelo BC.
¿ Já deu tempo de os juros fazerem efeito. E tiveram o efeito pretendido: conter a demanda para controlar a inflação ¿ afirma.
Sales, do IBGE, lembra porém que os fracos resultados da indústria apareceram após um período de forte expansão. Em 2004, a produção industrial fechou com alta de 8,3%, a maior desde 1986, no auge do Plano Cruzado.
¿ A base de comparação não é desprezível ¿ ressalta.