Título: UE: DERROTA DA ALEMANHA NÃO ENCERROU DITADURA
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Fonte: O Globo, 07/05/2005, O Mundo, p. 43

BRUXELAS. Aumentando a polêmica em torno das comemorações pelos 60 anos do fim da Segunda Guerra Mundial, a União Européia (UE) afirmou ontem que a queda do Muro de Berlim, mais do que a derrota da Alemanha nazista, representou o verdadeiro fim da ditadura no continente ¿ uma declaração que pode enfurecer Moscou.

¿Honramos as muitas vítimas inocentes e aqueles que pagaram o mais alto preço em defesa da liberdade e da democracia¿, disse a organização num comunicado. ¿Lembramos também os muitos milhões para os quais o fim da Segunda Guerra Mundial não foi o fim da ditadura e para os quais a verdadeira liberdade só veio com a queda do Muro de Berlim.¿

A UE se viu numa situação delicada ao escolher como marcar a data. No ano passado, mais 10 países aderiram à organização, entre eles Estônia, Letônia e Lituânia, que fizeram parte da antiga União Soviética, além de outros ex-Estados comunistas da Europa Oriental ¿ que eram controlados por Moscou.

O colapso do comunismo na Europa, a queda do Muro de Berlim em 89 e o fim da União Soviética dois anos depois abriram caminho para a adesão dos países do Leste à UE.

¿ Hoje estamos na UE e na Otan e esperamos que nossos aliados lutem pela verdade histórica e contra as mentiras ¿ disse o presidente da Polônia, Aleksander Kwasniewski.

Alemães se dividem entre a libertação e a derrota

No dia 9, líderes de mais de 50 países participam em Moscou das celebrações de aniversário do fim da guerra e de três dias de encontros diplomáticos. O secretário-geral da ONU, Kofi Annan, confirmou sua presença em Moscou, onde participará também da reunião do Quarteto de Madri para a paz no Oriente Médio. Já o premier britânico, Tony Blair, cujo partido venceu as eleições de quinta-feira, telefonou para o presidente russo, Vladimir Putin, para avisar que não irá por estar formando seu Gabinete.

As comemorações russas contarão pela primeira vez com a presença do chanceler federal alemão, Gerhard Schroeder. Ao embarcar para Moscou, Schroeder deixa em seu país uma outra polêmica: se o 8 de maio é o dia da libertação ou da derrota alemã.

Schroeder se refere à data como o dia da libertação da Alemanha da tirania nazista, refletindo a opinião de 80% dos alemães. Mas há outros que lembram que a vitória dos aliados levou o stalinismo ao leste do país.