Título: DISCURSO DE POLÍTICO DISPOSTO A RESISTIR
Autor: Fernando Duarte
Fonte: O Globo, 07/05/2005, O Mundo, p. 44

Assustadoramente familiar, o ritual pós-eleição é cumprido. Tony Blair reforma seu Gabinete, o líder conservador anuncia sua renúncia e Charles Kennedy (líder dos liberais-democratas) ganha mais algumas cadeiras. Isto é o que acontece no dia seguinte à eleição. É quase confortante.

Não se deixe enganar pela familiaridade superficial. O resultado desta eleição e o contexto político são muito diferentes. Já sabemos que o primeiro-ministro e o líder da oposição não vão disputar a próxima eleição. É um grande contraste em relação à terceira vitória dos conservadores em 1987, quando Margaret Thatcher e Neil Kinnock pretendiam continuar indo e indo até a próxima eleição (embora Thatcher não o tenha feito). Cada um dos principais partidos está entrando agora num período de transição.

Para Blair, o panorama político é menos rosa do que ele imaginou quando resolveu lutar por um terceiro mandato. No segundo semestre do ano passado, ele ¿ de modo pouco característico ¿ interpretou mal a percepção dos britânicos e achou que poderia sair da guerra com Alan Milburn (ministro sem pasta responsável pela campanha trabalhista) a seu lado e Gordon Brown (ministro das Finanças) longe da vista de todos. Agora, Blair começa seu terceiro mandato com Brown a seu lado e Milburn longe da vista de todos.

Essas mudanças simbólicas e a maioria bastante reduzida não significam que Blair estará compartilhando com Milburn o banco de trás dentro de alguns meses. A longa declaração do premier anteontem deu a impressão de uma agenda ambiciosa que poderia exigir a atenção de seu governo por três ou quatro décadas, em vez de um ano ou dois. Soou quase como se ele tivesse mudado de idéia e decidido que continuará indo e indo. Este foi o ponto de enviar um claro sinal de que ele está de volta ao trabalho e planeja ficar no poder durante boa parte do terceiro mandato.

Normalmente essas declarações pós-eleição são relativamente curtas. Blair fez um discurso de dez minutos, para o caso de duvidarem que ele tem um trabalho a fazer e que vai fazê-lo. Suspeito de que Brown ¿ que não foi consultado sobre o conteúdo da declaração ¿ acompanhou-a pouco à vontade.