Título: Questão de fé
Autor: Antônio Marinho
Fonte: O Globo, 08/05/2005, Revista, p. 21

NO CASO DOS MUÇULMANOS A EDUCAÇÃO religiosa passa necessariamente pelo aprendizado em casa. É o que diz Abdelbagi Osman, presidente da Sociedade Beneficente Muçulmana do Rio, que reúne 300 dos cinco mil muçulmanos do estado. Naturalizado brasileiro, de origem sudanesa, Abdelbagi, de 43 anos, está no Brasil há 17 e é casado há dois com a marroquina Itto Jaby, de 34 anos, com quem teve o menino Omar, de 1. Para Abdelbagi, o importante na educação é a coerência.

¿ Evitamos as palavras que nossos filhos não devem repetir. Estimulamos nossas crianças a seguir os preceitos religiosos através do livro sagrado, o Alcorão. Quando recitamos o Alcorão em voz alta e de forma melódica, a criança presta bem atenção ¿ conta Abdelbagi.

A educação religiosa sistemática dos muçulmanos só começa por volta dos 7 anos, quando aprendem a rezar. Nessa fase começa também a educação sexual. Já as obrigações religiosas têm início na puberdade, depois de um primeiro período de ensinamentos:

¿ O jovem começa a praticar a religião a partir de 13 anos, idade considerada a maioridade pela cultura islâmica. Para nós, a religião é o sistema completo de vida. Também ensina-se às crianças, antes de chegar a puberdade, a prática do mês do jejum. A educação islâmica é voltada para o sistema moral.

Budismo: sagrado é valorizar o presente

Para o zen-budista Bruno Pacheco, de 34 anos, autor de ¿100 pensamentos zen-budistas para uma vida melhor¿, ¿Histórias para se ver por outro lado¿ e ¿Três fábulas budistas para crianças¿ (Record), o budismo no Ocidente e, principalmente no Brasil, é mais filosofia de vida do que uma religião:

¿ Temos o budismo theravada, que é o mais tradicional; o tibetano, que é o mais difundido aqui devido à projeção do Dalai Lama e, sem dúvida, mais religioso. E temos o zen-budismo, que segue os princípios de Sidarta Gautama, o Buda, que vê seus ensinamentos mais como uma prática de vida ¿ diz Pacheco, que participará no dia 22 de maio de um fórum sobre religião na Bienal do Livro.

Ele diz que aprendeu o budismo com seu avô, que só conheceu aos 18 anos. Foi o avô que o ensinou a meditar:

¿ Eu era muito estressado. Há dez anos pratico meditação. Mergulho no silêncio e tento não pensar. Vivo a vida como ela é, valorizo o presente. Isso é o que há de religioso no zen-budismo: aprender que as coisas mais simples do cotidiano são sagradas.

Foi para o filho Leon, de 5 anos, que Pacheco começou a escrever seus livros com histórias adaptadas do budismo. Ele ficou feliz quando o viu certa vez apartar uma briga entre amigos:

¿ Eu o ouvi dizer: vamos achar o caminho do meio, que é o equilíbrio, o respeito ao outro ¿ conta.

Já Cecília Rocha, pedagoga e vice-presidente da Federação Espírita Brasileira, explica que a iniciação das crianças no conhecimento espírita e sua formação religiosa começam na família. Os filhos de espíritas são convidados a participar da evangelização infantil.

¿ O ensino espírita não acontece apenas em dias e horas marcados. Ele permeia todo o processo educativo, com vistas à formação do homem integral. A religião esclarece a todos nós a condição de filhos de Deus, a crença na imortalidade da alma, chamando, ao mesmo tempo, a atenção para as nossas responsabilidades como cidadãos e herdeiros do mesmo Pai ¿ diz Cecília.