Título: EMPREGOU A MULHER E FOI INDICADO POR SEVERINO
Autor: Isabel Braga
Fonte: O Globo, 07/05/2005, O País, p. 9

Presidente da Câmara escolhe para presidir comissão que discutirá fim do nepotismo deputado que fez triangulação

BRASÍLIA. Político de primeiro mandato, o médico Mannato (PDT-ES) deverá ser o presidente da comissão especial que vai discutir a proposta de proibir o nepotismo (favorecimento de parentes) na administração pública. Ele foi indicado para o posto pelo presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), mas terá que se submeter a uma eleição na comissão, semana que vem. O deputado Mannato, no entanto, já vai preparado para se explicar perante os outros 31 colegas: não só teve sua mulher contratada pelo gabinete do então deputado José Elias (PTB-ES) em 2003 como desde janeiro emprega em sua cota de funcionários pagos pela Câmara a mulher de José Elias.

Este tipo de contratação não é ilegal nem caracteriza nepotismo, mas é vista com reservas porque pode ser uma forma escamoteada de favorecer parentes. Em 2003, primeiro ano de seu mandato, sua mulher, Soraya de Souza Mannato, trabalhou seis meses no gabinete do então deputado José Elias (PTB-ES) no estado. Também médica, Soraya fazia ultra-sonografias no programa de atendimento à população carente bancado por Elias.

Hoje, Mannato reconhece que errou e conta que procurou a deputada Denise Frossard (PPS-RJ) para saber se isso era nepotismo e ela lhe disse que era uma forma indireta. Então, ele pediu a exoneração de sua mulher do gabinete do colega.

¿ Eu, que sempre combati o nepotismo, estava cometendo um erro. Procurei a (ONG) Transparência Brasil, me informei sobre o que consideravam um mandato ético e, hoje, entre outras coisas, disponibilizo minha declaração na internet. Sei que errei, faço mea-culpa, mas minha chance de provar que sou contra o nepotismo é nesta comissão, por isso pedi para participar. Quero fazer um trabalho ético, transparente, sem jogar para a platéia.

Já sobre a contratação de Maria Elizabeth Dadalto Elias, mulher do ex-deputado José Elias ¿ que se elegeu prefeito de Linhares (ES) em 2004 ¿ Mannato diz:

¿ Contratei-a porque precisava de alguém estratégico numa das regiões do estado. Para fazer contatos políticos e tentar garantir minha reeleição. Ela é capacitada para o serviço. Quanto a isso estou tranqüilo.

Comissão especial prevista para a próxima semana

Mannato afirma que ele próprio relatará aos colegas da comissão esses fatos. Ele entende que é preciso um debate equilibrado e sério sobre o que pode ou não ser considerado nepotismo, chamando ONGs e representantes de todos os poderes. E não teme que o problema com sua esposa e a do aliado prejudiquem a aspiração de ser presidente.

¿ Meus amigos me avisaram que esse posto daria visibilidade e ao mesmo tempo investigariam toda a minha vida. Não me importo. Se encontrarem qualquer parente meu empregado no governo federal, estadual ou em prefeituras, eu renuncio ao meu mandato ¿ afirma.

Todos os partidos, com exceção do PMDB, já indicaram os membros para a comissão especial. Ela deverá ser instalada na próxima semana e terá 40 sessões para apresentar e votar seu relatório que deverá ser submetido, em seguida, ao plenário da Câmara.