Título: CÉLULAS-TRONCO PROMETEM ADIAR MENOPAUSA
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Fonte: O Globo, 06/05/2005, Ciência e Mundo, p. 35

Cientistas produzem óvulos em laboratório e abrem uma nova frente de combate contra a esterilidade

NOVA YORK. Óvulos humanos em estágios iniciais foram criados a partir de células-tronco pela primeira vez, anunciaram pesquisadores americanos. Segundo os cientistas, da Universidade do Tennessee, a pesquisa poderá ajudar mulheres que tenham menopausa precoce ou outros problemas de fertilidade.

Ainda segundo os especialistas, o estudo pode levar ao adiamento da menopausa por até 12 anos. O estudo foi publicado na revista "Reproductive Biology and Endocrinology". Cientistas britânicos, entretanto, afirmaram que a pesquisa ainda se encontra em estágios iniciais e que ainda há muito trabalho a ser feito.

Ao nascerem, as mulheres apresentam cerca de dois milhões de folículos produtores de óvulos em seus ovários. Mas quando atingem a puberdade, o número já caiu para aproximadamente 400 mil.

O número de folículos continua a cair até que ela atinja a menopausa, quando a mulher não será mais capaz de produzir um óvulo maduro que possa ser fertilizado.

Entretanto, o grupo de pesquisadores de Tennessee descobriu que células-tronco encontradas nos ovários podem se diferenciar para formar novos óvulos.

Inicialmente, eles retiraram células da parte externa dos ovários de cinco mulheres com idades que variavam dos 39 aos 52 anos. As células foram cultivadas em laboratório por um período que variou de cinco a seis dias. Algumas foram expostas ao estrogênio, (hormônio sexual feminino) que estimula o crescimento.

As células ovarianas cultivadas sem a presença do hormônio se diferenciaram em células imaturas de diferentes tipos. Mas as que foram expostas ao estrogênio completaram o primeiro estágio da divisão necessária para se tornarem óvulos humanos maduros capazes de serem fertilizados e darem origem a um embrião.

Células-tronco embrionárias poderiam ser obtidas

O grupo afirmou que as células podem ser facilmente coletadas nas superfícies ovarianas com a ajuda de um laparoscópio, instrumento comum em clínicas médicas e hospitais.

De acordo com os cientistas, a descoberta poderá ajudar as mulheres com problemas de fertilidade ou que enfrentem uma menopausa precoce, aumentando as chances de conceber por fertilização in vitro.

Eles acreditam ainda que, no futuro, seria possível congelar células-tronco retiradas do ovário de mulheres jovens para serem usadas mais tarde na produção de óvulos, o que, em princípio, evitaria parte dos riscos relacionados à gestação em idade avançada.

A capacidade de produzir novos óvulos e células-tronco permitiria o desenvolvimento de novos folículos ovarianos. Isso poderia adiar de dez a 12 anos o início da menopausa.

O professor Antonin Bukovsky, que coordenou o estudo e é editor da "Reproductive Biology and Endocrinology", escreveu: "O desenvolvimento de diversos oócitos maduros a partir de células-tronco ovarianas adultas no laboratório oferece novas estratégias para preservação de óvulos, fertilização in vitro e tratamento para a infertilidade feminina."

Além disso, o estudo pode trazer outra contribuição importante. Óvulos criados em laboratório e, posteriormente, fertilizados, poderiam ser uma fonte de células-tronco embrionárias para outros estudos.