Título: SHARON É COMPARADO A HITLER EM JERUSALÉM
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Fonte: O Globo, 06/05/2005, O Mundo, p. 36

Extrema-direita israelense seria a responsável por suásticas e frases pichadas em prédio no Dia do Holocausto

JERUSALÉM. Enquanto estava na Polônia para as celebrações pelo Dia do Holocausto, o primeiro-ministro de Israel, Ariel Sharon, teve seu nome em Jerusalém comparado ao de Adolf Hitler e suásticas foram pintadas em prédios do governo no dia em que o país homenageava os seis milhões de judeus mortos nos campos nazistas.

Suásticas e frases foram pintadas na frente dos Arquivos Sionistas Centrais, no caminho que leva a Yad Vashem, o museu e o monumento do Holocausto, em Jerusalém. "Sharon segue os passos de Hitler", dizia uma das frases pintadas no prédio. "Sharon, Hitler estaria orgulhoso de você", dizia uma outra.

Um ministro culpou a extrema-direita pelo ataque, que teria sido provocado pela decisão do governo israelense de retirar os oito mil colonos judeus da Faixa de Gaza, onde vivem mais de um milhão de palestinos.

- Somente uma mente doentia poderia comparar o primeiro-ministro com o inimigo nazista no Dia do Holocausto - disse o ministro-chefe da Casa Civil, Isaac Herzog, que acompanhou Sharon ao campo de Auschwitz, na Polônia.

Vinte mil jovens fazem a Marcha dos Vivos

Sharon tem encontrado forte resistência da extrema-direita a seu plano de evacuar os 21 assentamentos judeus na Faixa de Gaza e quatro dos 120 na Cisjordânia. Perguntado sobre os ataques em Jerusalém, durante seu vôo à Polônia, o primeiro-ministro respondeu:

- Toda pessoa que tenta fazer esse tipo de comparação acaba incorrendo num sério equívoco - declarou.

Na Polônia, Sharon participou das homenagens pelas vítimas do Holocausto, que tiveram seu ponto alto numa passeata de 20 mil jovens judeus de mais de 40 países, na "Marcha dos vivos". Eles partiram do antigo campo de extermínio de Auschwitz, que ainda traz em sua entrada a frase nazista "Arbeit macht frei" ("O trabalho liberta"), numa caminhada silenciosa para recordar as seis milhões de vítimas dos campos de extermínio. Muitos levavam bandeiras de Israel.

A marcha foi de Auschwitz a Birkenau. Lá, a ocupação alemã construiu seu maior campo de extermínio, onde foram assassinadas 1,5 milhão de pessoas - a maioria judias.

No campo de Birkenau, a três quilômetros de Auschwitz, Sharon participou da cerimônia junto com os primeiros-ministros da Polônia, Marke Belka, e da Hungria, Ferenc Gyurcsany.

- Tenho certeza de que todos os meus colegas, líderes mundiais, recordam-se de como o mundo ficou em silêncio. Não deixemos que eles esqueçam. Que recordem o silêncio do mundo - disse Sharon, diante de mais de 20 mil pessoas. - Nunca mais. Recordem sempre as vítimas e nunca se esqueçam dos assassinos.

Elie Wiesel: "Onde todos nos tornamos órfãos"

Sharon pediu aos milhares de jovens, muitos deles netos de sobreviventes do Holocausto, que nunca se esqueçam do genocídio cometido contra os judeus durante a Segunda Guerra Mundial.

- Vocês estão aqui com as cabeças inclinadas, mas estão orgulhosos - disse Sharon. - Recordem quem são: jovens judeus livres, membros de uma nação que está disseminada por todos os continentes, todos os países.

Num discurso carregado de emoção, o sobrevivente de Auschwitz e prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel disse que o fanatismo e o racismo são as causas do genocídio.

- Aqui é onde todos nós nos tornamos órfãos. Aqui é onde perdemos nossa humanidade e nossa inocência - disse, referindo-se ao campo de concentração.