Título: FAZENDA TINHA TRABALHO ESCRAVO NO RS
Autor: Chico Oliveira
Fonte: O Globo, 07/05/2005, O País, p. 15

Polícia prende capataz que mantinha 34 lavradores, entre eles cinco menores, em regime de escravidão

PORTO ALEGRE. A polícia gaúcha prendeu ontem o capataz de uma fazenda em São Francisco de Paula, na região serrana do Rio Grande do Sul, onde há 40 dias eram mantidos em regime de escravidão 34 trabalhadores rurais contratados no interior do Paraná, entre eles cinco adolescentes de 14 a 17 anos. Um dos adolescentes estava doente e foi espancado por não ter tido condições de trabalhar. Os trabalhadores foram levados ontem para o Paraná.

¿ Os trabalhadores foram encontrados, durante a madrugada, abrigados num galpão sem as mínimas condições para servir de moradia, em condições muito precárias. Além de não receberem pelo trabalho que faziam, eram obrigados a comprar num armazém da fazenda com preços absurdos. Eram proibidos de deixar a fazenda e, em caso de doença, não recebiam qualquer atendimento ¿ disse o delegado Anderson Spier.

Os trabalhadores foram contratados há cerca de 40 dias na cidade de Wenceslau Braz (PR), com a promessa de que ganhariam R$15 por dia para colher feijão.

¿ A gente trabalhava de 12 a 14 horas por dia. O dinheiro prometido era apenas pelo trabalho da manhã, mas o capataz nos obrigava a trabalhar também à tarde, sem receber nada ¿ disse João Batista Oliveira, de 25 anos.

De acordo com o delegado, o capataz agredia os trabalhadores, sob ameaça de um rifle calibre 22. Ele foi levado para um presídio. A fazenda era arrendada pelo empresário Luiz Carlos Berti, que, por meio de um advogado, comprometeu-se a pagar aos trabalhadores e a regularizar sua situação.