Título: LULA ACELERA A AGENDA PELA REELEIÇÃO COM O LANÇAMENTO DE OBRAS PELO PAÍS
Autor: Ilimar Franco e Luiza Damé
Fonte: O Globo, 08/05/2005, O País, p. 4

No segundo semestre, a programação inclui projetos de infra-estrutura

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva pisou no acelerador e está intensificando a campanha pela reeleição. Enquanto a oposição não tem candidato, Lula corre solto e nos próximos meses vai participar do lançamento de obras e projetos de infra-estrutura. Estão sendo organizadas viagens para lançar a construção de sete gasodutos pela Petrobras, etapas da transposição do Rio São Francisco e projetos de biodiesel e da Brasil-Ferrovia.

A preocupação eleitoral de Lula ficou evidente na sexta-feira, em Campinas, no lançamento do Brasil-Ferrovia. Ele usou seu discurso para rebater o pronunciamento que o ex-presidente Fernando Henrique fizera na terça-feira, em evento tucano para comemorar os cinco anos da Lei de Responsabilidade Fiscal. Fernando Henrique acusou o atual governo de estar sofrendo de um "apagão de gestão" e Lula prometeu recuperar o Brasil do "apagão logístico dos anos 90".

Líder do PFL critica estagnação do governo

O tucano criticou o atual governo por "confundir austeridade fiscal com superávit primário" e Lula retrucou dizendo que "no passado, confundiram estabilidade com estagnação".

¿ Não há governo, mas um presidente em campanha ¿ critica o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ).

¿ O clima político é que está contaminado pela perspectiva eleitoral ¿ contesta o secretário de imprensa da Presidência, André Singer.

Nas comemorações do 1º de Maio, o tom eleitoral do discurso de Lula já tinha ficado claro. Ao falar numa missa, ele prometeu "luz para todos" até o fim de 2008. A prioridade do chefe da Casa Civil, José Dirceu, é impulsionar a área de infra-estrutura para que o presidente possa vender a imagem de um governo realizador.

No segundo semestre, por exemplo, está previsto que serão licitados três mil quilômetros de estradas e anunciadas medidas para a recuperação dos portos. E Lula, sempre que possível, fará o anúncio ou participará de evento relativo às obras. O presidente não apenas subiu no palanque, como está articulando apoios à sua candidatura como ocorreu na quinta-feira à noite, quando fez o PT mudar de posição sobre a emenda da verticalização para agradar ao PMDB.

Os atos do presidente estão sendo planejados em função de seus efeitos eleitorais. Para quebrar resistências nos setores médios da sociedade e na intelectualidade, nos quais perdeu pontos com a tentativa de expulsão do jornalista Larry Rother e com as propostas de criar o Conselho Federal dos Jornalistas e a Ancinav, Lula concedeu sua primeira entrevista coletiva há dez dias.

E, neste momento, os estrategistas da reeleição buscam meios para atenuar dois problemas detectados em pesquisas qualitativas e que são os pontos vulneráveis do governo: segurança pública e aumento de impostos.

¿ Isso nos inquieta, embora exista um discernimento que a questão da segurança é também de responsabilidade de estados e municípios e que aumentar impostos não é característica exclusiva do atual governo ¿ disse um auxiliar de Lula, de posse das pesquisas.

Conselheiros querem aproveitar imagem de Lula

Seus conselheiros querem aproveitar justamente o melhor atributo de Lula, constatado nas pesquisas ¿ "a imagem que ele transmite de determinação de fazer as coisas e sua disposição de enfrentar os desafios" ¿ para convencer os eleitores de que o presidente enfrentará estas duas questões num segundo mandato.

A postura de Lula não é inovação, segundo o cientista político, João Francisco Meira, do Instituto Vox Populi. Ele argumenta que uma das leis do marketing político é que "a próxima eleição começa no primeiro dia do mandato".

¿ A intensa agenda do presidente e sua grande exposição pública mantêm as atenções voltadas para ele, permitindo explorar ao máximo seu carisma ¿ diz João Francisco.

A oposição ainda não faz contraponto sistemático ao presidente em campanha. O PSDB não quer precipitar a escolha de nomes, temendo virar alvo, como o prefeito do Rio, Cesar Maia, que teve sua imagem de administrador arranhada com a intervenção nos hospitais federais do Rio.

Profissionais da área de marketing, porém, advertiram os pré-candidatos tucanos que eles estão cometendo um erro ao deixar Lula solto na raia eleitoral. Os tucanos resolveram reagir timidamente. Bateram bumbo para a Lei de Responsabilidade Fiscal e a partir do dia 20 de maio botam no ar, em inserções nacionais na TV, os governadores Geraldo Alckmin (SP) e Aécio Neves (MG). Eles também serão as estrelas do programa em rede nacional que será veiculado em 15 de junho.