Título: UMA GESTÃO QUE COLECIONA POLÊMICAS
Autor: Maria Lima e Isabel Braga
Fonte: O Globo, 08/05/2005, O País, p. 14

E deixa projetos à espera do voto

Dois meses e meio após a posse na presidência da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE) vem se transformando num dos políticos mais conhecidos no país. Na maioria das vezes aparece negativamente na mídia, defendendo aumento de subsídios para deputados, mais gastos públicos, nepotismo e fisiologismo, tudo o que provoca reações fortes na opinião pública. Mas nem de longe parecem incomodá-lo. Mantém a defesa de temas polêmicos e ultrapassados mesmo quando criticado severamente por parlamentares e pela sociedade.

Suas versões sobre o jogo político é que mudam, como no domingo passado, quando foi vaiado por um milhão de pessoas que participavam da festa do 1º de Maio organizada pela Força Sindical em São Paulo. Acostumado aos aplausos dos assessores na Câmara e dos aliados do baixo clero e de sua pequena João Alfredo (PE), tentou minimizar as vaias dos filiados da Força Sindical dizendo ter ouvido apenas aplausos. No dia seguinte, já mudara a versão: as vaias não foram para ele, mas para a Câmara, passou a dizer.

O mesmo faz na relação com o governo Lula e os adversários políticos, ora batendo duro, ora dizendo-se aliado. Neste jogo, em parte provocado pelo Planalto e em parte maior ainda pela falta de articulação política da base governista, projetos importantes aguardam votação na Câmara.

Entre eles, o que regulamenta o referendo que decidirá sobre a proibição da venda de armas e munição no Brasil. O projeto já deveria ter sido votado mas Severino deu mais prazo à chamada bancada da bala, o que retardou sua análise. Agora, está na pauta para ser votado esta semana na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e ainda terá de passar pelo plenário. Tudo isso em pouco tempo, já que precisa ser aprovado logo para que o referendo possa ocorrer em outubro, como previsto no Estatuto do Desarmamento.

Também ficou muito tempo parada a proposta da reforma tributária, que pode começar a andar somente agora, apesar de a pressão dos governadores ser antiga. E a reforma política praticamente está morta este ano.

Com a base aliada sem coordenação, o governo usa as medidas provisórias para tentar impedir Severino e seus aliados de aprovar projetos que contrariam o Planalto. Mas tem sido derrotado em questões importantes que acabam comprometendo a responsabilidade fiscal ao aumentar gastos públicos.