Título: DE PEDREIRO A SENADOR DE UM DIA PARA O OUTRO
Autor: Lydia Medeiros e Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 08/05/2005, O País, p. 16

Muitos suplentes são escolhidos por acaso ou falta de opção

BRASÍLIA. Um dos mais peculiares casos de suplente de senador é o da ex-secretária do PTB Regina Assumpção. Sem jamais ter pensado em fazer política, viu-se no cargo em 2001 e exerceu-o por mais de dois anos, praticamente muda em plenário. Ela substituiu o então senador Arlindo Porto, chamado para ministro da Agricultura, no governo Fernando Henrique. A secretária entrou na chapa de Porto por acaso, porque esqueceram de substituí-la.

Outro caso insólito foi o do ex-pedreiro João França. De um dia para o outro, trocou o trabalho na construção civil em Roraima pelos salamaleques parlamentares. França virou senador depois da morte do eleito para a vaga, Hélio Campos, apenas dois meses após a posse. O ex-pedreiro foi escolhido simplesmente porque o inexpressivo PMN não tinha quadros.

De olho na possibilidade de ganhar uma cadeira, alguns ¿futuros senadores¿ freqüentam a Casa para se familiarizar com o ambiente. Na semana passada, Antonio João, jornalista e suplente do líder do PT, Delcídio Amaral (MS), acompanhava o titular nas tarefas do dia. As brincadeiras foram inevitáveis e os ¿futuros colegas¿ queriam saber se ele estava aprendendo o ofício.

¿ Imagine, suplente não vale nada ¿ despistou. ¿ Mas estou treinando e toda semana venho aqui azucrinar.

Projetos estudam mudar regras para suplentes

Só na bancada do PMDB, dez dos 23 senadores devem disputar o cargo de governador nos estados de origem. No PT, haverá pelo menos três candidatos, inclusive o líder do governo, Aloizio Mercadante (SP). Ele diz ter absoluta tranqüilidade para, se for o caso, deixar na vaga o suplente, Giácomo Baccarin, atual secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento Social e ex-prefeito de Jaboticabal (SP). A conta não inclui a senadora Heloísa Helena (PSOL-AL), possível adversária do presidente Lula.

Todo ano, surgem iniciativas ou pelo menos intenções declaradas de mudar as regras para a escolha de suplentes. Eduardo Suplicy (PT-SP) já fez várias tentativas de mudar a legislação, para que suplente também seja votado. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), vai reapresentar emenda constitucional que transforma os suplentes e mesmo os vices de presidente, governadores e prefeitos em substitutos temporários. Para uma substituição definitiva, seria necessária nova eleição.

O líder da minoria, o senador José Jorge (PFL-PE), não demonstra preocupação com a possível invasão de suplentes.

¿ Nem todo candidato a cargo executivo se elege. Na eleição passada, apenas um senador se elegeu prefeito ¿ ameniza ele.