Título: A volta de Dirceu
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 09/05/2005, Panorama Político, p. 2

A guerra pela coordenação política do governo Lula voltou com toda força. O PT quer o cargo e o presidente do partido, José Genoino, recebeu a tarefa de levar a reivindicação ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro Aldo Rebelo sentiu a pressão, está desanimado e entregou o cargo para o presidente. Lula ainda não decidiu o que fazer, mas é provável que José Dirceu reassuma.

A necessidade de mudança na coordenação política foi o tema de um café da manhã, na sexta-feira, na casa do chefe da Casa Civil, José Dirceu. Lá estavam os ministros Antonio Palocci, Luiz Gushiken, Luiz Dulci, Jaques Wagner, os líderes Aloizio Mercadante, Paulo Rocha, Arlindo Chinaglia e Genoino. A avaliação dos petistas é que o governo está desarticulado e precisa restabelecer sua autoridade no Congresso. Para eles, a hora de mudar é agora. E temem que mantida a atual situação, fracassem os esforços para aprovar a reforma tributária. A prioridade é interromper a safra de derrotas no Congresso.

A situação de Aldo Rebelo ficou difícil depois do encontro entre Lula e o presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), na quinta-feira. O objetivo era selar a paz. Mas Severino decidiu tripudiar e, ao sair do Palácio do Planalto, indicou o pefelista André de Paula (PE) para relatar o salário-mínimo. Era o que os petistas precisavam para voltar a pedir a cabeça de Aldo.

Os petistas querem um coordenador afinado com os interesses do PT. Dizem que se um petista estivesse à frente da coordenação política teria usado os instrumentos do Executivo para aprovar a emenda da reeleição dos presidentes da Câmara e do Senado. Teria usado a máquina para eleger Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) presidente da Câmara e Sérgio Renault para o Conselho Nacional de Justiça. E não estaria indiferente na eleição para ministro do Tribunal de Contas da União (TCU). O ministro Aldo Rebelo alega que o governo não deve tomar partido porque há quatro candidatos da base governista. Mas para os petistas trata-se de fazer justiça com o deputado José Pimentel (PT-CE), que sacrificou sua carreira ao relatar a reforma da Previdência.

Assessores do presidente informam que a tendência é que essa mudança ocorra logo. E que a solução natural é o retorno de José Dirceu à coordenação política. Alegam que não é hora de inventar e que sua escolha seria bem recebida pelos líderes da base aliada, que nunca deixaram de tê-lo como interlocutor.