Título: NÃO PESA TANTO ASSIM
Autor: Luciana Calaza
Fonte: O Globo, 08/05/2005, Boa Chance, p. 3

Estudo da OIT põe em xeque mito de que mulheres representam custo alto demais para as empresas

Para que a gravidez não seja um obstáculo à ascensão profissional, a mulher moderna adia cada vez mais seu projeto de ser mãe. Pois esse fantasma, muitas vezes criado pelas próprias empresas, acaba de ser posto em xeque por uma pesquisa da Organização Internacional do Trabalho (OIT). O estudo, lançado em livro no mês passado, contesta o mito de que a mão-de-obra feminina seria muito mais cara do que a masculina em conseqüência da maternidade: os custos a mais representam menos de 2% da remuneração bruta mensal da mulher.

A pesquisa foi realizada pela OIT em cinco países da América Latina, entre eles o Brasil, onde tal custo é ainda menor: de 1,2%. Isso porque os benefícios médicos e financeiros associados à maternidade não são custeados diretamente pelos empregadores, mas pela seguridade social (Brasil, Argentina, México e Uruguai) ou por fundos públicos (no caso do Chile). O gasto efetivo das empresas fica por conta de auxílio-creche e amamentação.

Segundo a diretora do escritório da OIT no Brasil, Laís Abramo, os representantes de empresas brasileiras usam o argumento do custo trabalhista maior para justificar a preferência por homens:

- As despesas também não são tão grandes devido ao nível salarial das mulheres no Brasil, que está em média 30% abaixo dos salários dos homens.

Laís se diz preocupada com a tendência de adiamento da maternidade, que pode ter fazer com que a mulher tenha dificuldade de engravidar quando resolver ser mãe. Como aconteceu com Sandra Bráulio, representante de vendas de uma multinacional do ramo farmacêutico, que, hoje, aos 42 anos, tem gêmeos de um ano e nove meses:

- Tinha medo de perder promoções, oportunidades. Achava que a maternidade podia esperar. Quando decidi ter um filho, tive dificuldade. Aos 35 anos, comecei a fazer tratamento e só fiquei grávida aos 40. Mas nem todos têm condições de bancar o tratamento, que é caríssimo. E hoje percebo que posso conciliar todos os obstáculos da minha carreira com a função de ter dois filhos.

Para Moema de Aquino, diretora da Solução RH, a produtividade de uma mulher pode até crescer quando ela se torna mãe, devido ao aumento de responsabilidade e gastos. Moema avalia que, se possível, o projeto de gravidez deve ser colocado em prática a partir do terceiro ano da funcionária na empresa.

- O início da carreira é um investimento. A empresa não conhece suas competências - diz Moema.

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