Título: O PT e a transição
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 10/05/2005, Panorama Político, p. 2

O debate sobre os rumos da política econômica está de volta. Ele está sendo travado, de forma discreta, em torno do documento "Bases de um projeto para o Brasil", plataforma dos moderados para as eleições para a presidência do PT. Mas irá para as ruas no fim deste mês, quando os cinco candidatos à presidência do partido começarem a debater suas propostas em encontros estaduais.

O documento dos moderados incorpora, como sendo do partido, a política econômica do ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O compromisso que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu, com a Carta aos Brasileiros, de julho de 2004, transforma-se num compromisso estratégico do partido. O que era, no início do governo Lula, uma contingência da situação econômica de insegurança que precedeu a posse do petista, vira um programa de ação definitivo.

As tendências de esquerda, que devem disputar as eleições com três candidatos ¿ Raul Pont, da Democracia Socialista; Valter Pomar, da Articulação de Esquerda; e, Plínio de Arruda Sampaio, da Ação Popular Socialista ¿ acusam os moderados, e seu candidato, o atual presidente do PT, José Genoino, de terem se convertido ao liberalismo. Esta polarização era previsível. O que não estava programado era a divisão entre os moderados. Diversos petistas, que integram a maioria, consideram que a adoção da tese "Bases de um projeto para o Brasil" significa o abandono do projeto de transição para uma nova política econômica de inclusão social e distribuição de renda. Avaliam que abraçar esta tese tornaria o PT um partido conservador e cristalizaria uma visão de que não há outra maneira de controlar a inflação que não seja a combinação de juros altos, elevados superávits primários e baixos investimentos públicos.

Acreditam ainda que, avalizar sem reservas a política econômica, deixará o presidente Lula à merce de um discurso continuísta para disputar a reeleição. Fato que poderia embalar candidaturas populistas e alternativas partidárias à sua esquerda. O próprio PT, segundo estes moderados, ao se render à atual política econômica, estaria sendo reconstruído de uma forma dissimulada. Pois, entregue aos interesses do mercado financeiro, passaria a reproduzi-los, o que retiraria do PT a condição de ser o partido das mudanças.