Título: É MUITO CARO ENVELHECER NO BRASIL
Autor: Sérgio Cabral
Fonte: O Globo, 10/05/2005, Opinião, p. 7

Os números recentemente divulgados pela Fundação Getúlio Vargas através do Índice de Preços ao Consumidor da Terceira Idade (IPC-3i) não deixam margem de dúvida sobre o drama vivido pelos idosos brasileiros. De acordo com o levantamento, é justamente essa faixa etária a que mais sofre no bolso os efeitos da inflação. Nos últimos dez anos, a inflação para os maiores de 60 anos foi 50% maior do que a que atingiu os demais cidadãos. A conclusão, perversa, é uma só: no Brasil, envelhecer custa caro, muito caro.

O alto custo de vida dos cidadãos de terceira idade é conseqüência direta da falta de políticas públicas para a população idosa. Enquanto em outros países do mundo o envelhecimento vem sendo tratado como prioridade para o aprimoramento da qualidade de vida, no Brasil os idosos ainda sofrem na carne os efeitos da falta de um planejamento para seus problemas particulares.

Alguns itens que elevam a taxa de inflação para os cidadãos de terceira idade podem ser combatidos imediatamente. A começar pela área de saúde, principal responsável pelo alto custo de vida dos idosos. A atual política dos planos de saúde, por exemplo, estipula a lógica cruel de que envelhecer passa a ser sinônimo de mensalidades mais altas. Ao invés de um prêmio por viver mais, o idoso é punido ao pagar valores cada vez mais altos à medida que envelhece. A revisão do cálculo atuarial, portanto, com uma redistribuição das mensalidades pelas demais faixas etárias, é um caminho a ser pensado com urgência. Além, é claro, de uma ação paralela na saúde pública, que ainda hoje não tem atendimento geriátrico e gerontológico na grande maioria dos hospitais.

Outro grave problema é o aumento constante dos remédios. Pacientes de doenças crônicas são muitas vezes obrigados a interromper seus tratamentos por não terem condições de pagar por medicamentos indispensáveis. Nesse sentido, iniciativas positivas, como as farmácias populares existentes no Rio, têm sido de fundamental importância para diminuir o custo dos remédios. Mas ainda precisam ser dinamizadas nacionalmente.

O quadro poderia ser bem pior, é verdade. A recente aprovação do Estatuto Nacional do Idoso foi sem dúvida uma importante vitória. O próprio levantamento da Fundação Getúlio Vargas mostra que no caso do transporte público, graças à gratuidade para os idosos, a inflação sofreu uma queda expressiva. Ou seja, basta vontade política e uma boa dose de humanismo para combater o problema de forma efetiva.

Vejam o caso do item habitação. Os gastos com telefone, água, luz e gás para os idosos são maiores. A razão não é difícil de compreender. Depois de aposentado, o cidadão fica mais em casa e por isso aumentam os seus gastos. É possível corrigir isso a partir de uma nova aplicação tarifária, levando em conta o cotidiano do idoso.

Todos esses exemplos reforçam a urgência de políticas públicas para os idosos. Políticas públicas que sejam pensadas cada vez mais de forma integrada entre União, estado e município, como ocorre na Campanha de Vacinação Antigripal.

São ações dessa ordem que farão com que os cidadãos de terceira idade vivam com conforto e dignidade. Afinal, viver mais não tem preço.

SÉRGIO CABRAL é senador (PMDB/RJ).