Título: No jantar dos presidentes, petróleo no cardápio
Autor: Cristiane Jungblut, Maria Lima e Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 10/05/2005, O País, p. 9

No jantar dos presidentes, petróleo no cardápio

Lula, Kirchner e Chávez aproveitam encontro para discutir propostas de criação, a longo prazo, da Petrosul

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu ontem para um jantar na Granja do Torto os presidentes da Argentina, Néstor Kirchner, e da Venezuela, Hugo Chávez, em mais um esforço para unificar as posições dos três países durante a Cúpula América do Sul-Países Árabes, principalmente em relação à exploração de petróleo. Como um dos símbolos da unidade dos países da região, os três presidentes devem fazer um acordo de cooperação entre a Petrobras, a venezuelana PDVSA e a argentina Enersa.

Segundo o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, Marco Aurélio Garcia, Petrobras e PDVSA devem assinar em breve um acordo. A idéia é criar, a longo prazo, a Petrosul.

¿ Petrosul é apenas um nome. O importante é a cooperação que vai haver entre os três países.

Presidentes vetaram observador americano

Depois do jantar, em entrevista coletiva, Chávez disse que a reunião serviu para discutir a integração da América do Sul. Falou-se na criação da Unasul, organismo mais amplo do que o Mercosul; da Petrosul (que daria a Pernambuco uma refinaria de petróleo); discutiu-se a abertura da Tele Sul (uma televisão nos moldes da CNN), e a criação do Banco do Desenvolvimento do Sul.

Chávez disse ainda que os presidentes vetaram a idéia da presença de um observador americano no encontro:

¿ Eles não têm o que fazer aqui ¿ afirmou.

Chávez levou para o jantar dois microônibus com ministros, assessores, funcionários e até jornalistas. Ao chegar à Granja do Torto, a segurança barrou a comitiva, afirmando que apenas os presidentes e os chanceleres estavam sendo aguardados para o jantar.

Após negociação, entraram Chávez, alguns ministros e assessores mais próximos.

Lula tem encontro reservado com Kirchner hoje

Hoje, Lula terá um encontro reservado com Kirchner para tratar especificamente dos problemas comerciais entre os dois países que causaram o mal-estar e a troca de acusações entre autoridades brasileiras e argentinas na semana passada. O encontro bilateral deve ser à noite. Marco Aurélio Garcia disse que a conversa vai ocorrer num tom "ameno". O chanceler Celso Amorim pregou a união do empresariado dos dois países para fortalecer o Mercosul.

¿ O que quero ver, para falar a verdade, é, sem falar da política de juros e de câmbio, é os empresários argentinos e os brasileiros reivindicando aos governos, para a gente encontrar uma política industrial comum, para fortalecer nossa base de pesquisa e desenvolvimento, para que o produto Mercosul possa concorrer no mundo ¿ afirmou Amorim.