Título: GUSHIKEN ADMITE QUE PT QUER O CARGO DE ALDO
Autor:
Fonte: O Globo, 10/05/2005, O País, p. 10

Ministro diz que Genoino vai pedir a Lula que coordenação política fique com o partido por causa das eleições

RIO e SÃO PAULO. O ministro da Secretaria de Comunicação de Governo, Luiz Gushiken, disse ontem que o PT reivindica a saída do ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PCdoB), para substituí-lo por alguém do partido. Gushiken afirmou que participou de uma reunião, na semana passada, em que o assunto foi discutido. E que o pedido deverá ser enviado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo presidente do PT, José Genoino.

¿ Não sei qual o pensamento do presidente ¿ disse o ministro, que recebeu o prêmio Personalidade do Ano Roberto Marinho, da Associação Brasileira de Propaganda. ¿ O que houve numa reunião de alguns ministros e integrantes do partido foi uma análise da situação política e o entendimento de que é razoável e conveniente que, neste momento, tenha-se no papel de articulação política a representação do partido majoritário, que é o PT, o que seria uma coisa mais normal. Não há crítica a qualquer ministro, mas o pleito do PT me parece razoável e correto.

Objetivo do pleito do PT seria a eleição de 2006

Gushiken disse que "seria mais normal" o partido majoritário ter a articulação política do governo por causa das eleições do ano que vem:

¿ Seria mais normal, digamos assim, que no quadro político, principalmente porque no ano que vem tem eleições, o partido majoritário tenha essa representação na Câmara como articulador político do governo; seria mais fácil fazer os entendimentos. Certamente Genoino vai levar ao presidente da República.

Gushiken disse ainda que, da reunião, participaram, além dele e de Genoino, os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Antonio Palocci (Fazenda) e o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia.

Em São Paulo, Aldo negou ter pedido demissão e disse que não se sente constrangido em meio à pressão para que deixe a pasta:

¿ Essa função é de prerrogativa exclusiva do presidente da República. Não manifestei e nem tenho interesse (em pedir demissão). Tenho interesse é de ajudar o governo e o presidente até a hora que ele julgar necessário ¿ disse o ministro, surpreendido por uma jornalista que perguntou se ele se sentia como o técnico Daniel Passarella, que sofre pressão para deixar o Corinthians após a derrota por 5 a 1 para o São Paulo no domingo.

¿ Não, não levei nenhuma goleada de 5 a 1 ¿ disse ele.

Sobre Gushiken, Aldo foi diplomático:

¿ É uma opinião respeitável. O cargo pode ser não apenas do PT, mas de qualquer outro partido.

Renan diz que verticalização impede acordo com PT

Já o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), disse, em São Paulo, que o processo de verticalização ¿ previsto para ser votado hoje pela Comissão de Constituição e Justiça ¿ inviabiliza qualquer chance de aliança entre PMDB e PT nas eleições de 2006. Embora a favor da verticalização, Renan disse que o processo deveria ser discutido dentro de uma reforma política ampla:

¿ Com esse modelo de verticalização, a chance de aliança entre os grandes partidos é nenhuma, inclusive entre PT e PMDB. Partir da verticalização para fazer uma reforma política é um absurdo.

Renan afirmou que as tensões entre governo e Congresso ocorreram por não haver a decisão sobre uma coalização que governe o país e porque não há um modelo de articulação política. Ao lado de Aldo, sugeriu que a responsabilidade fique nas mãos de "alguém neutro e isento", numa clara defesa de que o processo não deve ser conduzido pelo PT. O presidente do Senado, porém, acabou provocando uma saia justa, na presença de Aldo:

¿ O ministro demonstrou isenção. Isto não é uma missa de corpo presente. Além de ser um dos melhores quadros do governo, ele tem isenção para administrar relações entre os partidos.