Título: DÉFICIT DE UM LADO, SOBRA DE OUTRO
Autor: Taís Mendes
Fonte: O Globo, 10/05/2005, Rio, p. 17

Há excesso de equipamentos para exames

Dados do Sindicato dos Estabelecimentos de Saúde do Rio mostram que há casos em que o número de equipamentos de uma unidade médica é mais do que o dobro do recomendado pelo Ministério da Saúde. Especialistas acreditam que essa pode ser uma das causas da epidemia de exames no Rio. Conforme O GLOBO revelou ontem, o número desses procedimentos, em relação ao início da década, dobrou, elevando as despesas com saúde.

De acordo com o presidente do sindicato, Adriano Londres, os parâmetros do Sistema Único de Saúde (SUS) sugerem que deve haver um aparelho de tomografia para cada cem mil pessoas. No Rio, segundo o Datasus, existem 130 desses aparelhos, 128 em funcionamento. Com uma população estimada em 6 milhões de pessoas, a cidade tem em média um tomógrafo para cada 46 mil habitantes, mais de duas vezes o número recomendado.

¿ Existe exagero em alguns casos ¿ disse.

Outro dado mostra que, em 2003, havia no Estado do Rio, nas redes pública e privada, 47 máquinas de hemodinâmica ¿ usadas em cateterismos e angioplastias. Em 1992, havia apenas 20. O crescimento, contudo, não reflete um aspecto positivo. Segundo Londres, o setor privado, que tem 29 dessas máquinas, precisaria apenas de nove para atender aos pacientes com plano de saúde em 2003 (cerca de 4,2 milhões).

O diretor do Hospital Universitário Clementino Fraga, no Fundão, Amâncio Paulino de Carvalho, diz que, nos países em que a medicina é mais avançada, o governo só autoriza a aquisição de equipamentos quando há necessidade comprovada:

¿ O Ministério da Saúde tem que ser mais afirmativo neste aspecto.

O deputado Paulo Pinheiro diz que a oferta excessiva gerou um novo tipo de lógica no setor de saúde.

¿ O dono de clínica, antes de sair para almoçar, quer saber se a quantidade de exames feitos é suficiente para pagar o empréstimo ¿ disse o deputado.