Título: DÓLAR CAI A R$2,45, A SÉTIMA QUEDA SEGUIDA. RECUO NO ANO CHEGA A 7,69%
Autor: Patricia Eloy e Martha Beck
Fonte: O Globo, 10/05/2005, Economia, p. 20

Real mais forte faz importações subirem 27%, afetando balança comercial

RIO e BRASÍLIA. A queda livre do dólar ¿ que já acumula desvalorização de 7,69% no ano e de quase 20% em 12 meses ¿ levou a moeda americana a registrar ontem a menor cotação de 2005: R$2,450, com perdas de 0,49% em relação ao real. Na mínima do dia, o dólar chegou a valer R$2,449. Foi a sétima queda consecutiva da moeda americana.

Segundo analistas, o recuo não tem impedido a venda de moeda por exportadores.

¿ Todo dia é a mesma coisa: os exportadores seguram os recursos enquanto podem, esperando que o dólar suba ao longo do dia. No entanto, próximo ao encerramento dos negócios e diante da expectativa de novas quedas, acabam vendendo dólares, tentando minimizar perdas, já que no dia seguinte a tendência é de que a moeda valha menos ainda. Por isso o dólar vem encerrando os negócios sempre próximo da mínima do dia ¿ disse o economista Sidnei Moura Nehme, diretor-executivo da NGO Corretora de Câmbio.

Diante das quedas recentes, a corretora americana Merrill Lynch revisou suas projeções para o câmbio. Em relatório publicado no fim da semana passada, o analista-chefe de mercados emergentes, Tulio Vera, reduziu de R$2,90 para R$2,70 as estimativas para o câmbio no fim de junho. Para dezembro, as projeções caíram de R$3,05 para R$2,90, reflexo do forte saldo comercial. Ontem, o risco-Brasil ficou estável em 423 pontos e a Bolsa caiu 0,49%.

Saldo comercial do país já encosta em US$13 bi no ano

A balança comercial já começa a mostrar os reflexos da desvalorização do dólar em relação ao real. Na primeira semana de maio, as importações somaram US$1,468 bilhão, o que representa um crescimento de 27,7% em relação ao mesmo mês no ano passado. Na comparação com abril, as compras da primeira semana de maio subiram 10,3%.

¿ O resultado de maio mostra que o mercado resolveu aproveitar o câmbio favorável às importações ¿ afirmou o vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José Augusto de Castro.

As exportações na primeira semana deste mês somaram US$2,196 bilhões. Com isso, o saldo da balança em maio está em US$728 milhões. No ano, as vendas externas somam US$35,849 bilhões, as compras, US$22,927 bilhões, e o saldo positivo, US$12,922 bilhões.

Embora também crescido em relação a 2004, as exportações da primeira semana de maio mostraram queda em relação a abril. Em relação a maio de 2004, as vendas externas brasileiras cresceram 16,1%, mas caíram 4,5% quando comparadas com o mês passado.

¿ A queda das exportações na comparação com abril pode ter sido resultado do atraso de algum embarque. Ainda é preciso esperar para ver os impactos do câmbio nas vendas ¿ explicou Castro.

As vendas de semimanufaturados foram as que mais cresceram na primeira semana de maio: 40,4% em relação ao mesmo mês em 2004. Entre esses produtos estão ferro-fundido, açúcar em bruto e semimanufaturados de ferro e aço. Já as exportações de manufaturados como fio-máquina de ferro e aço, aparelhos receptores e açúcar refinado cresceram 24,5%. As exportações de básicos, por sua vez, caíram 6,2% em relação a maio de 2004.