Título: VÔO PETROLINA-LUXEMBURGO COM UVAS E MANGAS
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 09/05/2005, Economia, p. 13

Cidade do sertão, recordista nacional, exporta para Europa e Japão

RECIFE. Há três décadas, os principais líderes políticos do município sertanejo de Petrolina alimentavam um sonho: construir um aeroporto com capacidade para receber aviões de grande porte que levassem frutas tropicais para Paris. O que parecia uma utopia do passado é realidade hoje. A partir desta semana, um avião cargueiro fará semanalmente a linha Petrolina-Luxemburgo, levando uvas e mangas para distribuir na Europa e, de lá, para o Japão.

Em pleno sertão, às margens do Rio São Francisco, a chamada Califórnia Brasileira é hoje o maior produtor nacional de manga e goiaba. E responde pelo terceiro lugar na produção de uvas. Também já é o segundo pólo produtor de vinhos. Juntamente com outros oito municípios da região, que também adotaram a agricultura irrigada, a cidade já responde por um terço do total dos US$350 milhões provenientes das exportações de frutas brasileiras.

A pujança, no entanto, tem provocado um outro problema, segundo o prefeito de Petrolina, Fernando Bezerra Coelho (PPS). A burocracia e a lentidão que normalmente caracterizam o serviço público têm feito com que necessidades básicas, como água e esgoto, não acompanhem o ritmo de crescimento da cidade. Por esse motivo, a prefeitura local se dá ao luxo de sustentar uma briga jurídica com o estado, para administrar seus esgotos e o abastecimento de água. Segundo o prefeito, a Companhia de Abastecimento de Pernambuco (Compesa), que abastece todo o estado, investe menos do que a cidade necessita. E ele exige na Justiça que a prefeitura passe a administrar esses dois serviços:

- Se comparado a outros municípios, a situação de esgoto em Petrolina até que é boa. Temos rede de ligações em 82% da área urbana. Na área rural, só um vilarejo, o de Jacolândia, possui esse serviço. Já o abastecimento de água oficialmente cobre 92% da população. Mas a prefeitura tem desenvolvido esforços para levar esses serviços para toda a cidade.

Esse crescimento deve-se à fruticultura irrigada, que se espalha por 45 mil hectares do município, por meio de cerca de três mil empreendimentos. Segundo o prefeito, o município tem 247 mil habitantes, dos quais 190 mil vivem na área urbana. Na área rural, cerca de 30 mil residem em agrovilas nos perímetros irrigados e a parte restante, em áreas de sequeiro, que dependem do sol e da chuva para as colheitas.

- Nos perímetros irrigados os lavradores recebem R$280 por mês, mas na caatinga, quando não chove, o povo passa fome mesmo - diz o secretário do Sindicato de Trabalhadores Rurais, Sebastião José Barbosa da Silva.