Título: MUITO ALÉM DA CIDADE GRANDE
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 09/05/2005, Economia, p. 13
PIB de 25 municípios do interior, das cinco regiões do país, já movimenta R$ 89 bi
Nem só de áreas metropolitanas vigorosas vive o Produto Interno Bruto (PIB) nacional. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) encontrou fora do entorno dos grandes centros urbanos pelo menos 25 municípios com atividade econômica relevante nas cinco regiões do país. São pólos de desenvolvimento industrial, comercial e agrícola que movimentam 6,65% de toda a produção de riqueza do Brasil. Somados, esses PIBs alcançavam R$89,547 bilhões em 2002, valor equivalente à produção de bens e serviços de uma imaginária metrópole intermediária entre Rio (4,7% do PIB nacional) e São Paulo (10,4%).
Como esperado, os maiores integrantes desse time ficam no Sudeste. São José dos Campos (SP) - pólo de produção aeronáutica e automobilística que está entre as nove cidades que concentram um quarto do PIB nacional - encabeça o ranking da força que vem do interior. Em 2002, sua economia produziu R$13,6 bilhões. Nos dois anos seguintes, tornou-se a segunda maior exportadora nacional.
A seguir, lista Sheila Zani, coordenadora do PIB Municipal do IBGE, aparecem Campos, potência fluminense movida a petróleo; Campinas, pólo tecnológico paulista; Macaé, outro município enriquecido pelo ouro negro; e a mineira Uberlândia.
Um dos vértices do Triângulo Mineiro, a cidade tem indústrias, centros universitários e produção de leite, bovinos e suínos. Abriga empresas como Algar, Souza Cruz, Cargill, Frigorífico Triângulo e Telefônica Brasil Central.
- Uberlândia é um exemplo de cidade que se tornou um pólo de vigor econômico em sua região. Neste levantamento, encontramos alguns municípios que estão entre a primeira e a terceira posição em seus estados. Ou seja, são importantes economicamente mesmo estando fora do entorno metropolitano - diz Sheila.
Vigor do agronegócio e peso de hidrelétrica
É o caso, por exemplo, de Joinville, que desbancou a capital Florianópolis no ranking do PIB municipal catarinense. Ou de Dourados, pólo agroindustrial do complexo soja, que tem a segunda maior economia do Mato Grosso do Sul. No Centro-Oeste, todas as maiores cidades do interior estão relacionadas ao agronegócio: além de Dourados, Rio Verde, Catalão e Jataí, em Goiás; e Rondonópolis, no Mato Grosso.
Na Região Sul, a gaúcha Caxias do Sul lidera o interior. Terceira maior cidade do Rio Grande, seu PIB de R$5,562 bilhões tem como destaque o pólo metal-mecânico que abriga indústrias como Marcopolo, Agrale e Random. Além disso, a cidade é forte em serviços e tem tradição na fabricação de vinhos, embora o setor não seja economicamente significativo diante da indústria, afirma a técnica do IBGE.
Como nos dados gerais, as regiões Norte e Nordeste ficam atrás dos pólos interioranos de Sul e Sudeste. Feira de Santana - produtora de softwares e segunda maior cidade do estado - e Ilhéus são as áreas vigorosas da Bahia. Na Paraíba, Campina Grande só perde para a capital, João Pessoa, e tornou-se um importante centro de comércio, serviços e alojamentos do estado. Além disso, tem duas grandes universidades públicas, uma federal e uma estadual.
Ipea: foco na cidade, em vez de região
O Ceará não apresenta nenhuma cidade entre as cinco maiores do interior do Nordeste. Mas o estado, afirma Sheila, do IBGE, tem cidades médias. Uma delas é Sobral. Na região, destaca-se ainda Canindé de São Francisco (Sergipe), onde funcionam a Usina Hidrelétrica de Xingó e uma grande indústria de laticínios.
No Norte, os destaques são as paraenses Tucuruí, Parauapebas, Marabá e Santarém. As duas primeiras, abrigam a Hidrelétrica de Tucuruí e atividades de extração mineral, relacionadas ao Complexo Carajás. Em Rondônia, Ji-Paraná rivaliza com a capital, Porto Velho.
É provável, diz a coordenadora do PIB Municipal Sheila Zani, que essas cidades exerçam impacto comparável ao das capitais em seus arredores. Até o fim do ano, o IBGE divulgará as informações econômicas de 2003 para todos os estados e municípios do país.
Técnico da Diretoria de Estudos Regionais e Urbanos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Mansueto Almeida, afirma que o PIB municipal mostra um país excessivamente concentrado nas metrópoles e áreas próximas, especialmente no Norte e Nordeste.
- Talvez faça diferença ter uma ação direcionada a determinados municípios onde não há atividade econômica, em vez de se priorizar uma política regional.