Título: FIM DA 2ª GUERRA MUNDIAL RENDIÇÃO NAZISTA
Autor:
Fonte: O Globo, 09/05/2005, O Mundo, p. 18

Memórias de vitória e liberdade

Bush compara luta contra nazismo a atuais batalhas dos EUA em prol da democracia

O presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, comparou ontem a luta pela liberdade na Segunda Guerra Mundial à campanha pela democracia ao redor do mundo e a guerras lideradas por seu governo. Bush participou ontem de uma homenagem aos mortos na Segunda Guerra no cemitério de Margraten, na Holanda, onde estão enterrados oito mil soldados americanos mortos na Europa durante o conflito.

- Comemoramos uma grande vitória da liberdade. E as milhares de cruzes e estrelas de Davi gravadas aqui em mármore branco representam o terrível preço que pagamos por essa vitória - afirmou Bush, num breve discurso. - Americanos e europeus continuam a trabalhar juntos e estão levando liberdade e esperança a lugares onde, por muito tempo, elas foram negadas à população. No Afeganistão, no Iraque, no Líbano e por boa parte do Oriente Médio.

O presidente americano estava acompanhado de sua mulher, Laura, da rainha Beatriz e do primeiro-ministro da Holanda, Jan Peter Balkenende.

- Os tiranos do mundo inteiro aprenderam uma lição: não há força maior que a liberdade e não há soldado mais forte que aquele que combate pela liberdade - discursou.

Ao comparar a Segunda Guerra a crises contemporâneas, Bush citou ainda a luta pela democracia na Geórgia e na Ucrânia.

Na época da Segunda Guerra, disse o presidente, os ditadores pensavam que "a democracia era demasiado branda para sobreviver, mas encontraram uma aliança de Exércitos e de combatentes da resistência. Agora, quem busca a democracia nestes países também triunfará".

- Quando essa esperança (de democracia) se converter em realidade para todos, será graças aos sacrifícios de uma nova geração de homens e mulheres tão altruístas e tão dedicados à liberdade como os que hoje homenageamos - sustentou Bush.

Neonazistas fazem marcha em Berlim

Após a cerimônia na Holanda, o presidente dos EUA viajou para Moscou onde, à noite, jantou com o presidente russo Vladimir Putin. Hoje, Bush participa de uma grande comemoração pelos 60 anos do fim da Segunda Guerra Mundial na Europa. A comemoração, na Praça Vermelha, reunirá 60 líderes internacionais, entre eles, o chanceler alemão Gerard Shröeder e o primeiro-ministro do Japão, Junichiro Koizumi.

Numa prévia do grande evento de hoje, diversas cerimônias foram realizadas ontem em diferentes países da Europa.

Em Berlim, as manifestações foram tensas e por pouco não terminaram em conflito quando uma passeata de neonazistas quase se encontrou com um protesto contra o fascismo.

O Partido Nacional Democrático, de ultradireita, convocou uma passeata nas ruas ao redor da Alexanderplatz para protestar contra o que chama de "mentira da libertação" sob o slogan "60 anos de mentiras, hora de colocar fim ao culto da culpa".

Mas um grupo de seis mil pessoas protestava no mesmo local contra a extrema-direita.

Para evitar a violência que poderia surgir do encontro dos dois grupos, a polícia de Berlim inicialmente ordenou que os membros do partido ficassem na praça atrás de barricadas e da polícia. Depois, entretanto, o próprio PND decidiu abandonar a marcha.

Na França, o presidente Jacques Chirac depositou flores no túmulo do soldado desconhecido no Arco do Triunfo, enquanto em Londres, o príncipe Charles fez uma homenagem similar em Cenotaphe, um local em memória à guerra localizado no centro da capital.

Na Áustria foi celebrado o aniversário da libertação de Mauthausen, invadido pelas tropas americanas em 5 e 6 de maio de 1945. Participaram da cerimônia o presidente da Áustria, Heinz Fischer, e o chefe do governo espanhol, José Luis Rodriguez Zapatero.

No sudoeste da Polônia, numa cerimônia em Wroclaw, o presidente Aleksander Kwasniewski rendeu homenagem ao Exército Vermelho, mas não sem deixar de reclamar a verdade histórica sobre os crimes do stalinismo.

Após tensão, uma conversa amigável

MOSCOU. A despeito das acirradas divergências sobre democracia e relações de Moscou com os países vizinhos, a conversa, na noite de ontem, entre o presidente dos Estados Unidos, George W. Bush, e da Rússia, Vladimir Putin, teria sido aberta e amigável, segundo assessores dos dois governos.

Os dois presidentes se reuniram por mais de uma hora na residência de Putin, nos arredores de Moscou, na véspera da grande comemoração pelos 60 anos do fim da Segunda Guerra Mundial prevista para hoje, na Praça Vermelha, com a presença de dezenas de líderes mundiais.

O encontro ocorreu um dia depois de Bush ter classificado a dominação soviética sobre o leste da Europa depois da derrota nazista "um erro histórico" e ter exortado Putin a respeitar a soberania dos países bálticos num discurso feito em Riga, capital da Letônia. Em Moscou, no mesmo dia, Putin afirmou que o Exército Vermelho não foi opressor, mas sim libertador de 11 nações européias. Disse ainda que o modelo de democracia americano não poderia ser exportado a toda parte.

Mas o conselheiro de segurança nacional da Casa Branca, Stephen Hadley, afirmou ontem que o discurso de Bush em Riga foi apenas um dos tópicos discutidos entre os dois presidentes durante o encontro. Segundo ele, houve grande ênfase em áreas nas quais os governos trabalham juntos, como o Oriente Médio, o Irã e a Coréia do Norte.

- Há muito mais no nosso relacionamento com a Rússia do que apenas essa discussão - garantiu Hadley, acrescentando ainda que os dois países têm um bom diálogo sobre o tema democracia.

O ministro do Exterior russo, Sergei Lavrov, e a secretária de Estado dos EUA, Condoleezza Rice, também afirmaram que o encontro foi amigável.

- Eles conversaram sobre a importância de não se aceitar o terrorismo ou terroristas. Acho que esse foi o ponto essencial aqui porque ambos estão muito preocupados com a situação palestina - disse Rice.

Legenda da foto: VETERANOS HOLANDESES saúdam o presidente George W. Bush no cemitério de Margraten