Título: BANCO SANTOS: CREDORES AMEAÇAM BC
Autor: Ronaldo D'Ercole e Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 10/05/2005, Economia, p. 23

Para eles, carteira de ativos é maior do que o anunciado pelo Banco Central

SÃO PAULO e RIO. Credores do banco Santos ameaçam ir à Justiça contra o Banco Central (BC) se o liquidante da instituição, Vânio Aguiar, não cobrar as dívidas dos clientes que tomaram empréstimos do banco e aplicaram parte do dinheiro em papéis de empresas também controladas pelo banqueiro Edemar Cid Ferreira. Por isso, os passos de Aguiar, que já avisou que pedirá a falência do Santos o mais rápido possível, são acompanhados com apreensão pelos credores.

¿ Não dá para dizer que a carteira de ativos do banco seja de apenas R$750 milhões, como diz o liquidante. Achamos que ela é significativamente maior que isso ¿ diz o diretor de Reestruturação de Empresas da KPMG, Eduardo Farhat, que representa 200 credores do Santos com R$500 milhões a receber.

Dono de uma rede de empresas em paraísos fiscais, Cid Ferreira inflava a carteira de créditos do Santos concedendo empréstimos a empresas e clientes considerados de alto risco na praça, cobrando como contrapartida a aplicação de parte do financiamento em títulos de empresas de fachada sediadas em paraísos fiscais. Por considerar esses papéis de baixa ou nenhuma liquidez, Aguiar já estaria tratando como perda a maior parte desses empréstimos.

¿ Não concordamos com o provisionamento de todos os créditos com contrapartida. Assim, o BC está sendo conivente com as fraudes que esses clientes compactuaram com o banco. Eles têm de pagar o que devem e depois cobrar do senhor Edemar ¿ afirma Farhat.

O problema é que muitos desses clientes já recorreram à Justiça para não pagar os empréstimos, a menos que o banqueiro lhes pague os créditos relativos aos papéis que compraram como contrapartida.

Já a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ¿ responsável pela fiscalização e regulação do mercado de capitais ¿ nomeou ontem a Mellon Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários como administradora temporária de 27 fundos de investimento antes administrados pelo Banco Santos. Pouco mais de 3.400 cotistas têm recursos aplicados nestes fundos.

¿ Agora caberá ao administrador se esforçar para recuperar os valores perdidos por alguns cotistas do Santos ¿ diz Carlos Sussekind, superintendente de Relações com o Investidor da CVM.