Título: MÉXICO: ADVERSÁRIO DE FOX É CANDIDATO
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 10/05/2005, O Mundo, p. 26
Prefeito da capital, López Obrador desponta como favorito na próxima eleição presidencial
WASHINGTON. Embalado por uma grande vitória obtida dias atrás nos tribunais ¿ garantida por meio de uma hábil manobra política, que forçou um recuo do presidente Vicente Fox ¿ o prefeito da Cidade do México, Andrés Manuel López Obrador, anunciou ontem que vai renunciar no próximo dia 31 de julho, para se candidatar à Presidência da República.
Ele é, atualmente, o político mais popular do país. E, em conseqüência disso, tornou-se também o favorito para a eleição que acontecerá em julho do próximo ano.
Sua plataforma é parecida com a de outros latino-americanos que tiveram êxito numa empreitada dessas nos últimos anos: um novo pacto social, ¿com mais igualdade e menos injustiça¿, disse López Obrador ontem ao fazer o esperado anúncio.
Obrador diz que fará campanha barata
Ao dizer que participará das primárias do Partido da Revolução Democrática (PRD), de esquerda, o prefeito prometeu não usar dinheiro público em sua campanha e visitar todo o país por terra, viajando em automóveis ou em caravanas de ônibus:
¿ Será uma campanha de baixo custo, em busca de um mandato para livrar milhões de mexicanos da pobreza ¿ disse o candidato.
Com o anúncio, López Obrador deu concretamente a volta por cima num esquema que até dias atrás visava não só impedir que ele se candidatasse como, também, colocá-lo atrás das grades por até oito anos. Intensas forças políticas no Congresso, acumuladas por meio de um acordo eventual entre o Partido da Ação Nacional (PAN), do governo, e o velho Partido Revolucionário Institucional (PRI), que permaneceu no poder de 1929 até 2000, cassaram a imunidade do prefeito no último dia 7 de abril ¿ abrindo caminho, assim, para que fosse indiciado por desacato à Justiça numa obscura e antiga disputa judicial.
A disputa diz respeito à uma via de acesso a um hospital municipal que tinha sido construída num terreno privado. O caso foi levantado, coincidentemente, quando as pesquisas de opinião começaram a mostrar que tanto o PAN quanto o PRI não tinham candidatos suficientemente fortes para derrotar López Obrador, do PRD, caso ele resolvesse se candidatar à Presidência da República.
Fox se reúne com prefeito e promete eleições limpas
Até mesmo o jornal ¿New York Times¿ publicou um editorial afirmando que o presidente Fox estava minando a democracia mexicana ao permitir que Lopez Obrador fosse retirado de cena. Uma reação pública fora do comum, iniciada na capital e que se espalhou por todo o país, terminou por obrigar Fox a demitir o procurador-geral de Justiça, Rafael Macedo de la Concha, que providenciava o indiciamento de López Obrador.
Isso aconteceu apenas três dias depois de uma gigantesca manifestação de protesto na capital. Logo depois, o presidente apresentou uma legislação permitindo que cidadãos participem de eleições, mesmo que estejam sendo acusados na Justiça. E, para encerrar o caso de uma vez por todas, na última sexta-feira ele se reuniu com o prefeito no palácio presidencial e, depois de prometer ¿um processo eleitoral limpo, livre e pacífico¿, informou ao adversário que a Procuradoria Geral de Justiça ¿não vai mais exercitar ação penal alguma contra a vossa excelência¿.