Título: Empresários brasileiros e argentinos divergem sobre proteção à indústria
Autor: Martha Beck, Valderez Caetano e Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 11/05/2005, O País, p. 4

Para presidente da CNI, 'visão moderna não é pactuar com a ineficiência'

BRASÍLIA e RIO. O presidente da União Industrial Argentina (UIA), Hector Augusto Mendez, afirmou ontem que Brasil e Argentina precisam criar mecanismos para que seus governos baixem medidas que limitem as importações e protejam suas indústrias quando houver situações em que um dos dois países fique em desvantagem comercial. Ele destacou que a Argentina é hoje este lado mais debilitado e que uma economia vizinha enfraquecida não é do interesse do Brasil. Os empresários brasileiros descartaram a adoção de salvaguardas automáticas e disseram que política industrial moderna é "não pactuar com a ineficiência".

- Existem assimetrias que devemos corrigir porque temos um destino juntos. Temos que imaginar um mecanismo para proteger a estrutura industrial de ambos os lados. Nesse caso, a Argentina é a que está mais debilitada e um vizinho do tamanho da Argentina com problemas não serve ao Brasil - disse Mendez, depois de um encontro com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

O empresário argentino elogiou Palocci e aproveitou para alfinetar o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan. Segundo ele, Furlan é mais duro, enquanto os demais ministros brasileiros entendem que não é possível pensar no futuro sem um equilíbrio no presente.

- Furlan é sempre mais duro e traz mais preocupação para o futuro. Os outros ministros, sobretudo hoje, com o ministro Palocci, entendem que não é possível pensar no futuro se não há equilíbrio hoje - disse.

No Rio, o ministro Furlan reconheceu ontem que o país gasta a maior parte do tempo "apagando incêndios" em sua relação comercial com a Argentina. Para ele, em vez disso, os parceiros deveriam focar sua energia para projetos de interesse recíproco que possam gerar vantagens competitivas.

Furlan informou que viajará para a Argentina no próximo mês em busca de convergências com os empresários argentinos. O ministro adiantou, porém, que o Brasil mantém sua posição de desconsiderar o sistema de salvaguardas unilaterais defendido pelos argentinos, já que isso significaria o "enterro do Mercosul".

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, disse ontem que os empresários brasileiros não aceitam a adoção de medidas automáticas e impositivas, como proposto pelo governo argentino em caso de desequilíbrio no crescimento e mudanças bruscas no câmbio:

- É inaceitável qualquer ação de caráter unilateral. Todas as tensões entre os dois países têm que ser resolvidas pelo diálogo.

Para CNI, é preciso promover a competitividade

O presidente da CNI destacou que, se a Argentina criar um mecanismo de barreira automática, o espaço antes ocupado pelos brasileiros poderá ser preenchido por países com grande competitividade, como o Chile e a China, e não necessariamente pelos produtos argentinos.

Para Armando Monteiro Neto, é preciso trabalhar numa agenda de médio e longo prazos para superar as dificuldades.

- A visão moderna da política industrial não é reclamar proteção nem pactuar com a ineficiência, mas promover uma aliança entre os setores público e privado para elevar a competitividade da economia brasileira.

Legenda da foto: PALOCCI RECEBE o presidente da UIA, Hector Augusto Mendez