Título: BOMBA RELÓGIO
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Fonte: O Globo, 11/05/2005, O País, p. 6

O Rio de Janeiro, informa a Fundação Getúlio Vargas, é a capital brasileira que tem a menor taxa de fecundidade, com 1,44 filho por mulher, e no ranking dos municípios é o quarto (têm taxas menores apenas Santos, Niterói e São Caetano). Estes dados, em si positivos, tornam-se dramáticos quando confrontados com os números da gravidez de adolescentes na cidade: para cada grupo de cem jovens de 15 a 19 anos, há 15 filhos.

Isso já seria suficiente para denotar um problema dos mais graves, mas que assume dimensões alarmantes ao se considerar que, segundo a mesma FGV, cada cem adolescentes dessa faixa de idade na Zona Sul têm 5,4 filhos, enquanto nos bairros pobres e nas favelas o número chega a 26,6. Ou seja: a taxa média, já alta demais, é enganosa, composta por dois números muito díspares.

Permitir que se mantenha essa altíssima taxa de fecundidade nas comunidades e famílias de mais baixa renda e menor escolaridade, e que tão freqüentemente moram em ambientes dominados por traficantes, equivale a condenar as crianças a uma vida na pobreza, sem perspectivas, e a conferir sempre ao crime organizado toda a facilidade de recrutamento de menores. Problema que não é novo mas está se agravando rapidamente e em todo o país. Porque, segundo o IBGE, na década de 1991 a 2000, o número de meninas de 10 a 14 anos que foram mães pela primeira vez no Brasil cresceu 93,7%.

As causas desse crescimento explosivo da maternidade precoce - o despertar cada vez mais cedo da sexualidade, a liberação geral de costumes - podem ser tema de graves discussões. Mas, sejam quais forem essas causas, tão nefastos são seus efeitos na população mais carente que o problema precisa ser combatido com urgência.

E não há outra solução senão proporcionar às jovens, como às mulheres pobres de modo geral, meios de prevenção da natalidade, devidamente acompanhados de persistentes campanhas de esclarecimento.

Pois muito pouco promete o futuro para esses filhos de adolescentes que, além de serem em geral indesejados, serão criados por mães jovens demais, despreparadas e em condições materiais profundamente adversas.

A gravidez de adolescentes tem efeitos nefastos entre os mais pobres