Título: Mais ações para os pequenos
Autor: Luciana Rodrigues e Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 11/05/2005, Economia, p. 23

BNDES fará até junho oferta de R$1 bi voltada para pessoa física aplicar em fundo

O BNDES anunciou ontem que, ainda neste semestre, vai abrir uma nova oferta para pequenos investidores que queiram aplicar na carteira de ações da BNDESPar, subsidiária do banco. A operação, que era aguardada há meses pelo mercado, será para captar cerca de R$1 bilhão para o fundo Papéis Índice Brasil Bovespa (PIBB), lançado em julho do ano passado. A aplicação, voltada para pequenos investidores e que reúne ações das maiores empresas brasileiras, foi considerada um sucesso. Na primeira oferta, de R$600 milhões, os investidores puderam aplicar valores baixos, a partir de R$300. Desde seu lançamento, o PIBB já rendeu 30%.

Segundo o presidente do BNDES, Guido Mantega, assim como ocorreu no ano passado, não será permitido o uso de recursos do FGTS nessa nova oferta de ações pelo PIBB. Ele explicou que uma operação com o FGTS atrasaria o cronograma e que o BNDES quer abrir a captação ainda este semestre. Mas Mantega garantiu que o banco se prepara para, no futuro, lançar novos fundos de ações para trabalhadores que queiram usar parte de seu Fundo de Garantia, a exemplo do que foi feito com os fundos FGTS-Vale e FGTS-Petrobras.

- Essa segunda tranche (emissão) do PIBB será lançada em breve, com novas regras melhores, mais eficientes. Terá um valor em torno de R$1 bilhão - disse Mantega, após participar do segundo dia de debates do XVII Fórum Nacional.

O presidente do BNDES não quis dar detalhes sobre as regras da nova aplicação. Mas deu a entender que, como ocorreu no ano passado, o investidor terá uma garantia de recompra das ações.

- Na pior das hipóteses, ele recebe de volta aquilo que ele aplicou. E, na melhor das hipóteses, participa da valorização das ações que compõem esse fundo - disse Mantega.

A venda de R$1 bilhão em ações da BNDESPar corresponde a 2,72% da carteira de ações da subsidiária do banco, de R$36,8 bilhões. Quem participou da primeira oferta do PIBB poderá voltar a comprar cotas do fundo. Ricardo Magalhães, gestor da Mellon Global, considera o PIBB uma ótima aplicação:

- As ações de Petrobras, Vale e do setor bancário respondem por mais de 50% do fundo. São papéis que devem trazer ganhos para o fundo, devido ao aumento na produção de petróleo, da forte demanda por minério de ferro e pelos juros altos que vêm engordando o lucro dos bancos.

O economista Marcelo D'Agosto alerta para os riscos da aplicação:

- Como todo investimento em Bolsa, está sujeito a fortes oscilações que podem assustar aplicadores de perfil mais conservador. Bolsa, é bom deixar claro, é sempre uma aplicação de risco - diz ele, autor do livro "Como escolher o melhor fundo de investimento".

O objetivo do BNDES ao relançar o PIBB é ajudar na popularização do mercado de capitais. Ontem, Mantega anunciou que Fábio Sotelino da Rocha, funcionário de carreira do banco, será responsável pela recém-criada Superintendência de Mercado de Capitais. O BNDES pretende investir em fundos setoriais, como de energia ou siderurgia, ou de pequenas e médias empresas que promovam inovação tecnológica.

Segundo Mantega, o banco pretende ainda participar de fundos de recebíveis, que são uma ferramenta para as empresas anteciparem créditos que têm a receber no futuro.

Como foi a operação

CAPTAÇÃO: Em julho de 2004, o BNDES vendeu R$600 milhões em cotas do PIBB. A gestão do fundo de ações ficou a cargo do Banco Itaú e outros sete bancos participaram da venda das cotas.

CARTEIRA: O fundo é composto pelas ações da BNDESPar, que correspondem ao IBrX-50, índice que inclui as 50 ações mais negociadas e com maior valor de mercado na Bolsa, entre elas Petrobras, Vale e AmBev.

BANCOS: Em 2004, os investidores pessoa física compraram cerca de 50% das cotas. A meta do BNDES era de que o pequeno investidor respondesse por até 80% da oferta. Embora a procura tenha sido grande, faltou preparo aos bancos para a venda no varejo. À época, as instituições privilegiaram as vendas aos investidores de alta renda.

SAQUES: O PIBB, que chegou a ter ganho acima de 40% este ano, registra resgates desde o lançamento. O patrimônio original de R$600 milhões já está em torno de R$350 milhões.