Título: BRASIL CAPTA US$ 500 MILHÕES
Autor: Patricia Eloy e Regina Alvarez
Fonte: O Globo, 11/05/2005, Economia, p. 23

Demanda é seis vezes maior. Dólar tem alta e risco-país sobe 4,26%

RIO e BRASÍLIA. O governo brasileiro driblou o mau humor dos mercados internacionais e conseguiu ontem captar US$500 milhões no exterior, em nova emissão de títulos da dívida com vencimento em 2019. Os mesmos papéis foram vendidos em outubro do ano passado, em operação que atingiu outro US$1 bilhão. Ontem, a demanda surpreendeu: foi quase seis vezes maior que a oferta e chegou a US$2,84 bilhões. A operação foi concluída em menos de três horas, mostrando que o investidor estrangeiro ainda tem forte apetite por títulos do Brasil. A captação foi liderada pelos bancos Goldman Sachs e Merrill Lynch.

- Nunca vi demanda tão forte, nem uma operação de um país emergente ser fechada em tempo recorde. E o fato de a oferta ter sido limitada a US$500 milhões deve favorecer novas emissões do governo ou mesmo de empresas brasileiras, já que parte dos investidores não conseguiu participar da operação - diz Max Volkov, diretor de Mercado de Capitais do Merrill Lynch em Nova York.

Governo pagará menos que no ano passado pela nova emissão

Volkov, que coordenou a oferta, disse que 81% dos investidores eram americanos. Eles terão retorno de 8,83% ao ano com a aplicação. Em 2004, os papéis renderam 9,15%.

- Foi excelente negócio para o país - diz Volkov.

Esta é a quarta emissão do Brasil no exterior em 2005. No total, os recursos obtidos já chegam a US$4,9 bilhões, sendo que a meta este ano é captar US$6 bilhões.

- O governo aproveitou um bom momento para fazer as emissões - afirma Gustavo Loyola, ex-presidente do Banco Central e sócio da consultoria Tendências.

Os bônus foram emitidos com um spread (taxa de risco) de 458 pontos-base acima do título do Tesouro dos EUA, usado como referência de mercado, com prazo de dez anos. Os papéis brasileiros têm vencimento em 14 de outubro de 2019 e o pagamento dos juros semestrais aos investidores será feito nos dias 14 de abril e 14 de outubro de cada ano até o vencimento dos títulos.

Apesar do sucesso da nova emissão, o risco-Brasil subiu 4,26%, para 441 pontos. Rumores de que um grande fundo internacional estaria prestes a quebrar devido a aplicações em títulos da General Motors causaram apreensão no mercado e aumentaram a cautela dos investidores. A Bolsa caiu 2,76% e o dólar subiu 0,98%, interrompendo sete quedas consecutivas. A moeda americana fechou cotada a R$2,474.

PLANEJAMENTO ADMITE QUE ORÇAMENTO ESTÁ ENGESSADO, na página 24

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