Título: Dirceu: dívida interna é maior problema do país
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 11/05/2005, Economia, p. 25

Ministro diz que endividamento é a herança mais grave e que foi um processo nefasto de concentração de renda

A dívida interna é o maior inimigo do país, na opinião do ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu. Ontem, no segundo dia de debates do XVII Fórum Nacional, na sede do BNDES, Dirceu disse que sem equacionar essa dívida nos próximos anos dificilmente o Brasil dará continuidade à trajetória de crescimento.

- Não há herança mais grave do que essa - disse Dirceu. - Talvez seja o maior processo de concentração de renda de uma sociedade, o mais nefasto que possa existir. Mas é uma realidade. Nós temos que fazê-lo (pagar a dívida).

A dívida líquida do setor público atingiu R$966 bilhões em março. Segundo o ministro, apenas o serviço da dívida custa em média R$100 bilhões por ano aos cofres públicos. Um problema que, na avaliação de Dirceu, é desconhecido da maioria da sociedade:

- Acho que não há uma compreensão correta de que nós retiramos de cada família, de cada empresa, recursos que não voltam em investimentos sociais e de infra-estrutura.

Dirceu: política econômica não se resume a ajuste fiscal

Durante sua exposição, Dirceu disse que a política econômica do governo não se resume aos ajustes fiscais e que o país tem um projeto de desenvolvimento.

- Muitas vezes políticas econômicas entram em crise por questões políticas e sociais. Não é verdade que países só entram em crise por falta de crescimento econômico.

O ministro também rebateu as críticas de que o governo gasta demais com contratações. Ele chegou a dizer que o governo errou em não contratar mais, pois a máquina administrativa tem um déficit de funcionários capacitados.

- O Ministério da Agricultura tinha uma estrutura de 1937. A pressão que vem da oposição de certa mídia às vezes inibe o governo. Está errado - disse, revelando que é repreendido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva por responder demais às críticas. - Na maioria dos casos tenho que ficar quieto porque o presidente me puxa a orelha.

O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, também rebateu as críticas de que o governo estaria aumentando gastos com pessoal. Segundo ele, houve aumento de despesas, mas com as políticas sociais e com o reajuste do salário-mínimo, que foram uma opção do governo.

- No caso da Previdência com certeza houve aumento (de despesas), em parte porque o governo optou por dar um reajuste mais expressivo para o salário-mínimo. E houve um crescimento nos gastos com transferência de renda, que eram de cerca de R$6,5 bilhões em 2002 e este ano ficarão próximos a R$17,5 bilhões. O governo optou por fazer esse incremento e nós o defendemos, achamos que é necessário.

COLABOROU Luciana Rodrigues