Título: MEMORIAL POLÊMICO NO CORAÇÃO DE BERLIM
Autor: Eduardo Fradkin
Fonte: O Globo, 11/05/2005, O Mundo, p. 31

Monumento a judeus mortos pelo nazismo pode ser alvo de vandalismo e é criticado por ser abstrato demais

BERLIM. Ao fim 17 anos de discussões sobre como deveria relembrar um período amargo de sua história, a Alemanha inaugurou ontem o Memorial dos Judeus Assassinados da Europa. Mas a polêmica parece longe de terminar, em meio a temores de que o monumento seja alvo de vândalos e de neonazistas.

- Acho que será aceito pela nova geração, mas certamente não será aceito por todos. Vai haver oposição, indiferença e negação - disse Wolfgang Thierse, presidente do Bundestag (câmara baixa do Parlamento) ao inaugurar o memorial.

No coração de Berlim e a cem metros de onde ficava o bunker de Adolf Hitler, 2.711 blocos de concreto lembram a morte de seis milhões de judeus, vítima dos nazistas.

- Acredito que o monumento seja o início de uma discussão mais ampla. Cada pessoa que avistá-lo terá de se ocupar dele em seus pensamentos de alguma forma - disse ao GLOBO a jornalista Lea Rosh, que idealizou o monumento e que preside a fundação que supervisionou sua construção.

Mas para o presidente do Conselho Central de Judeus da Alemanha, Paul Spiegel, o memorial é muito abstrato para descrever o Holocausto e fracassou no objetivo de confrontar a Alemanha com sua culpa:

- O memorial homenageia as vítimas do nazismo, mas não se refere diretamente aos perpetradores - disse na cerimônia, da qual participou o chanceler federal, Gerhard Schroeder.

O arquiteto americano Peter Eisenman vê sua obra como uma metáfora do regime nazista e do genocídio sistemático que realizou. No subsolo são projetados nomes, sobrenomes, datas de nascimento e de morte. As histórias de como as vítimas foram mortas são relatadas em alto-falantes, conta Lea.

- Queremos acrescentar nomes. A meta são 3,5 milhões. Não basta as pessoas lerem nos livros que seis milhões de judeus foram mortos.

Com agências internacionais

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