Título: Lula ao PT:`Eu faço a hora¿
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 13/05/2005, O Globo, p. 2

Como já é rotina, a um êxito do governo, como foi a cúpula com os árabes, segue-se uma crise na área política. Fugaz, a agenda positiva é logo tomada pela negativa. Mas terá o PT de conter a ansiedade. A alguns caciques Lula avisou anteontem que já viu a luz vermelha na questão parlamentar, que enfrentará o problema em sua própria hora e ele mesmo decidirá o destino do ministro Aldo Rebelo. E sua disposição é transferi-lo para outra pasta, espera-se que dentro de uma mudança maior não sujeita a ditames partidários.

Quanto ao ministro, apesar do estilo conciliador, tem a marca da formação comunista e a cultura do nordestino que aprendeu a comer jiló. Não vai pedir demissão, poupando o PT do ônus da degola.

Lula parece ter se rendido mesmo à evidência de que é preciso enfrentar a crise na gestão política. Deixou de dar ouvidos aos que acham que o Congresso pode-se ir levando, entre trancos e barrancos. Convenceu-se de que não haverá coordenação política eficiente com qualquer ministro que careça de ascendência sobre o PT e de aceitação pelo partido.

Em rápida conversa com a coluna no jantar de terça-feira no Itamaraty para os participantes da cúpula árabe, deixou clara a compreensão de que a situação política chegou ao limite. Não escondeu também sua irritação com o comportamento do PT, voltando à carga contra Aldo Rebelo, como se fosse ele o responsável único pela desarticulação da base e as conseqüentes derrotas do governo, situação que tem origem na eleição do presidente da Câmara, onde o próprio PT sabe o tamanho dos erros que cometeu.

¿ Vou resolver tudo isso na hora certa mas ninguém vai me dizer se é antes ou depois da viagem ao Japão ¿ disse Lula.

Na reunião de sexta-feira passada entre cardeais petistas que deu origem às notícias sobre a nova investida contra Aldo, chegou-se de fato a falar na necessidade de resolver o problema da coordenação política antes do dia 22, quando o presidente embarca.

Em outras conversas, Lula tem dito também que não deixará Aldo ¿na lona¿. Ou seja, deve transferi-lo para outra pasta, mas, para isso, precisa mover algumas peças do Ministério. E como já disse também que não fez o que desejava na fracassada reforma do mês passado, entende-se que vá agora fazer novas mudanças, e dentro delas resolverá o destino de Aldo. Voltou-se a falar ontem numa consulta a José Alencar sobre seu real interesse em permanecer na Defesa mas é pouco provável que Lula queira aborrecer mais ainda seu vice, descontente com os rumores de que será trocado na chapa para a reeleição.

Pode ser também que Lula acabe se antecipando, pois quando os partidos da base combinam uma reunião da qual o PT não participará, é sinal de que as coisas chegaram mesmo ao limite. Entre eles, acabou a indulgência para o que chamam de hegemonismo petista. Ontem o vice-líder do governo Beto Albuquerque e o líder do PSB, Renato Casagrande, que sempre estiveram entre os mais dóceis, não mediam palavras de censura ao PT.

¿ Como podem achar que um petista agora resolverá os problemas que eles mesmos criaram dentro da base? ¿ perguntava Casagrande.

Mas algo fugiu ao controle dos petistas que se reuniram na sexta-feira passada: Genoino, os ministros da coordenação de governo (Dirceu, Palocci, Jaques Wagner e Gushiken), Marco Aurélio Garcia e os líderes Paulo Rocha e Chinaglia. A discussão principal foi sobre a disputa interna no PT pela renovação da direção, o chamado PED. Avaliando as derrotas da semana no Congresso, combinaram de levar ao presidente um aviso sobre a necessidade de enfrentar o problema. Não teriam combinado pedir a cabeça de Aldo. E foi assim que Jaques Wagner fez o relato a Lula. Mas depois o ministro Gushiken fez circular a versão da degola, e por isso mesmo foi com ele que Lula mais se irritou.

Provando do feitiço

Para um presidente cujo governo vem perdendo o pé no Congresso, vetar o aumento de 15% para os servidores do Legislativo foi comprar mais briga. Mas a oposição também está numa saia justa. Tendo feito do combate aos gastos uma de suas bandeiras, não terá muito argumento agora para condenar o veto cometido em nome da austeridade. ACM aconselha seus pares a baixar o tom.

O líder do PFL, Rodrigo Maia, avisou ao líder do governo, Arlindo Chinaglia: se a causa foi a falta de previsão orçamentária, os aumentos do Judiciário e do Ministério Público devem ser também rejeitados. Esta briga, o governo não deseja comprar.

Destino de Meirelles

Henrique Meirelles, garante o governo, enfrentará a investigação do Ministério Público na presidência do Banco Central. Mas sabe-se que sua permanência agora tem um horizonte mais curto. O PTB tem como certa sua filiação em outubro para que possa concorrer ao governo de Goiás em 2006.

O SENADOR Jefferson Peres (PDT-AM) ouviu ontem os argumentos do presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, contra o projeto da desfusão Rio-Guanabara, do qual é relator. O senador é a favor, mas desde que haja um plebiscito. Eduardo Eugenio acha que o projeto está fora do tempo, pois hoje a região metropolitana já rompeu as fronteiras da antiga Guanabara. Mais produtivo seria discutir um projeto de desenvolvimento sustentável para o estado.