Título: BASE QUER DISCUTIR RELAÇÃO COM LULA
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Fonte: O Globo, 13/05/2005, O País, p. 4

Insatisfeitos com sede de poder, aliados planejam reunião sem o PT

BRASÍLIA. O PT está na mira dos aliados. Um dia depois de o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo (PCdoB), afirmar que o PT não se contenta com os 19 ministérios que tem, os líderes dos partidos aliados engrossaram o discurso contra a sede de poder dos petistas e marcaram uma reunião para a próxima terça-feira para discutir a relação entre governo, PT e Câmara. Mas sem a presença de petistas.

A insatisfação é tamanha que na noite de quarta-feira, em protesto, os líderes chegaram a comunicar ao governo que não participariam de reunião ontem de manhã com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, para debater a reforma tributária.

¿ O encontro só ocorreu porque o líder do PTB, José Múcio (PE), argumentou que não poderíamos deixar na mão nosso colega e líder do governo, Arlindo Chinaglia (PT-SP), e que nem era correto ser descortês com o Palocci ¿ disse o líder do PCdoB, Renildo Calheiros (PE).

Os aliados avaliam que os problemas na base decorrem da postura do PT: de um lado o partido reivindica mais espaço no governo e de outro não dá nenhuma segurança quanto ao comportamento que terá nas eleições do ano que vem.

Recado é mostrar que não há governo sem aliados

Por isso, os aliados querem criar um fato político na próxima semana para ressaltar que não há governo sem base aliada, pois o PT tem apenas 20% das cadeiras na Câmara e 15% das vagas do Senado.

¿ É a gota d¿água. O descontentamento transbordou e o presidente Lula precisa botar um freio nisso. É preciso deixar claro qual é o papel do ministro José Dirceu e o do Aldo na articulação. O PT precisa aprender a governar com a base. Ou então que governe sozinho e arque com as conseqüências ¿ desabafou ontem o líder do PSB, Renato Casagrande (ES): ¿ Não dá mais para fingir que somos governo, só votando as matérias de interesse do governo, e o PT continuar mandando em tudo, nos cargos e nas diretrizes de governo. O PT quer tudo para ele.

O líder Arlindo Chinaglia tentou pôr panos quentes na crise mas condenou a realização do encontro de líderes governistas sem a participação do PT.

¿ Não acho que é uma atitude correta excluir qualquer partido para que se faça uma articulação em paralelo. Todos os partidos da base têm que ter tratamento igual ¿ disse Chinaglia.

Apesar de o PT estar trabalhando para ocupar a Coordenação Política, Chinaglia disse que, como líder do governo, trabalha em consonância com todos os ministros, especialmente com Aldo Rebelo:

¿ Aquilo que estou entendendo como manifestação de apreço político e até pessoal pelo ministro Aldo não é exclusividade do deputado Casagrande. Nós também temos.

Para o líder, não basta fazer críticas, mas apontar soluções. Segundo ele, ao apontar a desarticulação do governo no Congresso, os aliados têm o desafio de construir uma boa relação.

¿ Para fazer a defesa de um ministro não é necessário comentar aquilo que todos sabemos que existe na Câmara desde o final de 2004: divergências na base em torno de temas relevantes ¿ disse.

Ontem no Rio, Rebelo disse que não se sente desconfortável com as pressões para que ele seja afastado do cargo. Durante palestra no Fórum Nacional, no BNDES, disse que o Brasil é ingovernável só com um partido, mas negou que tivesse fazendo referência à sua situação:

¿ O presidente Lula governa com uma frente heterogênea, não pode fugir a essa exigência.