Título: PROCURADOR PEDE AO STF INQUÉRITO SOBRE JUCÁ
Autor: Carolina Brígido e Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 13/05/2005, O País, p. 5

Petista defende ministro e Planalto tenta mostrar tranqüilidade, mas Lula não esperava que fosse pedida a investigação

BRASÍLIA. O procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, pediu ontem ao Supremo Tribunal Federal (STF) abertura de inquérito para investigar o ministro da Previdência, Romero Jucá (PMDB). Deverão ser investigadas as circunstâncias em que o Banco da Amazônia (Basa) concedeu empréstimo à Frangonorte, empresa da qual Jucá era sócio. O financiamento foi concedido mesmo com as contas da empresa mostrando que havia dívidas não quitadas com o Basa.

Segundo o Ministério Público, o débito da empresa em 2001 somava R$13 milhões. O parecer de Fonteles informa que, em dezembro de 1994, Jucá comprou a Frangonorte em sociedade com Getúlio Alberto de Souza Cruz. Com a empresa, assumiu dívida de R$3,1 milhões com o Basa e o Banco do Brasil. Apesar das dívidas, os sócios conseguiram novo empréstimo no Basa em junho de 1995.

Segundo o despacho, consta do cadastro do Basa a liberação de outros R$3 milhões à Frangonorte. A empresa nega. Quatro funcionários do Basa e o sócio de Jucá prestarão depoimento no inquérito. A investigação deve ser concluída em 60 dias.

A reação oficial do governo Lula foi de apoio a Jucá, com a ressalva de que é preciso esperar o rumo que o STF dará ao caso.

¿ O governo vai aguardar o pronunciamento do STF. Como senador, Jucá sempre demonstrou competência e eficiência e a Previdência precisa disso ¿ disse o líder do governo, senador Aloizio Mercadante (PT-SP).

Na quarta-feira, Jucá jantou na casa do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), com a cúpula do partido. Segundo Mercadante, a bancada manifestou apoio integral a ele.

O líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), considerou complicada a situação do ministro e criticou a reação passiva do governo:

¿ Os fatos se sucedem e Lula insiste em esperar a decisão de última instância da Justiça. Se estivesse no cargo, eu me demitiria, para depois voltar ou não.

O líder do PFL, senador José Agripino (RN), também lembra que é preciso esperar o Supremo. Para ele, ao contrário da decisão relativa ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles ¿ em que o STF já decidiu abrir inquérito ¿ ainda não há indício claro de culpa de Jucá.

¿ A responsabilidade é do presidente Lula, que já disse que o ministro fica no cargo até que haja comprovação de culpa ¿ afirmou Agripino.

A assessoria do ministro informou que ele está em Manaus. Jucá telefonou ontem para o presidente Lula e disse que estava tranqüilo e que a investigação seria positiva. A estratégia do governo é mostrar tranqüilidade diante do pedido de inquérito, mas a verdade é que o Planalto esperava uma decisão favorável a Jucá. O governo vinha sustentando que o ministro já tinha dado todas as explicações sobre as denúncias. No telefonema, Lula disse a Jucá que ele deveria continuar seu trabalho à frente da Previdência.

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