Título: SERRA E PT SE ENVOLVEM EM MAIS UMA BATALHA
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Fonte: O Globo, 13/05/2005, O País, p. 9

Prefeito minimiza declaração de que teria recebido proposta de ajuda do Tesouro em troca de não denunciar Marta

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Declarações do prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), publicadas ontem pelo jornal ¿Valor Econômico¿, provocaram novo confronto entre o tucano e o PT. A direção do PT aguarda o retorno do presidente do partido, José Genoino, que chega hoje do Japão, para decidir que providências tomar. Segundo a reportagem, Serra disse no Instituto de Estudos de Política Econômica (Iepe), no dia 25 de abril, que recusou proposta de acordo feita pelo PT: ele deixaria de denunciar supostas irregularidades fiscais da administração Marta Suplicy (PT) em troca de ajuda financeira do Tesouro Nacional.

"Quando o pessoal do PT vem propor acordo de nós não dedurarmos as infrações à Lei de Responsabilidade Fiscal em troca de ajuda federal (...). Porque isso existe, inclusive a Secretaria do Tesouro Federal é especialista em fazer acertos dessa natureza (...) Nós não temos condições de aceitar", teria dito Serra no encontro com economistas e executivos do mercado financeiro na Casa das Garças, no Rio.

Ontem, Serra divulgou nota na qual não desmente as frases, mas nega categoricamente ter recebido qualquer proposta de acordo e elogia o tratamento recebido pela equipe econômica do governo federal.

"O encontro tinha caráter de conversa, diálogo privado e permitia a informalidade (...) Raciocínios truncados e frases soltas, algumas na irreverência de um debate e em linguagem coloquial, ao serem transcritos, ficam sujeitos a interpretações equivocadas. Aproveito para esclarecer que em nenhum momento recebi de algum partido ou de autoridades federais propostas de trocar financiamentos por omissão no cumprimento de meu dever, mesmo porque meus entendimentos com a área econômica do governo federal têm transcorrido num clima de respeito ao interesse público, de lado a lado", diz a nota.

Oficialmente, o PT nacional não se pronunciou sobre o assunto. Já o PT municipal, dominado pelo grupo de Marta, distribuiu uma "Carta aberta" ao prefeito, na qual acusa Serra de tentar chantagear o partido. "Prefeito José Serra, vamos deixar publicamente claro para todos: o PT não aceita nem aceitará o método da chantagem política para aprovar projetos que considera ou considerará lesivos para a cidade de São Paulo. Sua intenção era obter nosso apoio ou nosso silêncio, como também o desrespeito a determinações em matéria de dívidas e repasses financeiros do governo federal. Em troca, cessaria sua campanha pública de calúnia contra a nossa dirigente Marta Suplicy. Não aceitamos antes, e não aceitaremos agora sua chantagem", diz a carta assinada pelo presidente do diretório municipal, Ítalo Cardoso.

Mercadante considera denúncia grave

Para o líder do governo Lula no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), a denúncia é grave:

¿ Acho muito estranho isso. O prefeito deve dizer quem o procurou propondo esse acordo. Não acredito que alguém possa ter feito isso. Se fez, não tem o respaldo do governo, nem da bancada do PT.

Por meio de sua assessoria, o Tesouro Nacional informou que não comentaria o episódio. Na área econômica, argumenta-se que não se pode reagir a afirmações que não foram confirmadas por seu autor e nem há transcrições das fitas.

Tucanos rebateram as suspeitas lançadas sobre Serra pelo diretório municipal do PT em São Paulo, de que o prefeito estava tentando chantagear o partido.

¿ Chantagista é quem fez a proposta para acobertar os erros da ex-prefeita. Esse pessoal tem de perceber que, se não fosse a estabilidade econômica internacional e a democracia consolidada que vivemos, eles cairiam como Jango, porque não sabem tocar o país. Vivem de palavras soltas ¿ reagiu o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM).

¿ A atitude do presidente do PT de São Paulo é politiqueira, típica de quem está em desespero por não conseguir explicar os problemas da gestão Marta Suplicy ¿ disse o deputado Jutahy Magalhães Júnior (PSDB-BA).