Título: Alta do combustível terá 2º turno
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Fonte: O Globo, 15/10/2004, Economia, p. 27

A gasolina e o óleo diesel estão mais caros a partir de hoje, mas como o percentual de reajuste ficou aquém do que o mercado esperava, o consumidor já pode esperar um novo aumento. A possibilidade foi admitida pelo próprio ministro da Fazenda, Antonio Palocci. O reajuste anunciado ontem pela Petrobras nos preços de suas refinarias é de 4% para a gasolina e de 6% para o diesel, sem os tributos. A estatal estima que o repasse para os consumidores, se não houver mudança nas margens de lucro de distribuidoras e postos, será de 1,6% para a gasolina e 3,8% para o diesel. O impacto já deve ser sentido no bolso hoje.

O presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis do Município do Rio (Sindicomb), José Luiz Mota Afonso, calcula que o preço da gasolina deverá subir em torno de R$ 0,03 por litro, ou 1,62%. Para o diesel, a alta deverá ser de 4%, cerca de R$ 0,05 por litro.

Um reajuste era aguardado há meses, por causa da escalada dos preços do petróleo no mercado internacional. A Petrobras e membros do governo diziam que era preciso esperar a formação de um novo patamar de preços do petróleo ¿ que batem recordes diários e já ultrapassaram US$ 54 o barril ¿ para que a decisão fosse tomada. Em Brasília, depois de participar de uma solenidade no Palácio do Planalto, Palocci reconheceu que esse reajuste não seria suficiente:

¿ Muito provavelmente a Petrobras fez um nível de reajuste, mas talvez não todo o ajuste que ela imagina fazer ao longo do período. Outros países também não estão acompanhando totalmente os preços.

O aumento de hoje nas refinarias é o segundo do ano e do governo Lula. O primeiro ocorreu no dia 15 de junho deste ano. A alta acumulada, no caso da gasolina, é de 15,2%.

Especialistas: defasagem de até 40% nos custos

Analistas do setor de petróleo e consumidores compartilham a opinião de que após o segundo turno das eleições municipais a Petrobras deverá anunciar novo reajuste.

¿ Acho que depois das eleições vamos ter outro aumento. Agora, não entendo como o Brasil está chegando à auto-suficiência e mesmo assim tem que aumentar seus preços quando o petróleo sobe lá fora ¿ reclamou o funcionário público Antonio Osório da Silva, que ontem abastecia seu carro no Centro do Rio

O especialista Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), disse que a defasagem de preços dos combustíveis no Brasil em relação ao mercado internacional continua elevada. Pelas suas contas, a gasolina ainda está 18% mais barata e o diesel, 26%. Luiz Caetano, analista do Banco Brascan, disse que a gasolina está 40% mais barata que no exterior.

¿ Foi um aumento político, porque o PT quer mostrar que reajusta preços antes das eleições. Mas acho que vem aí um segundo turno de aumento ¿ destacou Pires.

O diretor-financeiro da Petrobras, Sérgio Gabrielli, garantiu que não houve interferência da equipe econômica no cálculo do reajuste dos preços dos combustíveis. Para Palocci, a decisão da Petrobras foi correta e não deverá ter impacto na inflação, porque a medida já era esperada pelo Banco Central (BC) e pelos analistas de mercado.

¿ A Petrobras não tem atribuição de controlar a inflação. Essa é uma atribuição do Banco Central ¿ disse Palocci.

Gabrielli disse que vários fatores foram considerados pela estatal para decidir aumentar os preços da gasolina e do diesel. O executivo disse acreditar que os preços do petróleo no mercado internacional não continuarão subindo para um valor muito maior que o atual. Gabrielli não quis falar sobre defasagem de preços de combustíveis em relação ao mercado internacional, dizendo que a Petrobras leva em consideração outras variáveis na hora de tomar decisões.

¿ Teve uma desvalorização de 7% do dólar frente ao real desde o último reajuste em junho até agora, o que beneficia as contas da Petrobras ¿ afirmou Gabrielli.