Título: Setor de alimentos prevê reajuste de preços e indústria descarta repasse
Autor: Isabel Kopschitz e Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 15/10/2004, Economia, p. 28

Os preços dos alimentos para o consumidor, que vêm mantendo a inflação em níveis baixos, vão aumentar nos próximos 15 dias em conseqüência dos reajustes dos combustíveis nas refinarias anunciados pela Petrobras ontem ¿ 4% no caso da gasolina e 6% para o óleo diesel. A informação é do presidente da Bolsa de Alimentos do Rio, José de Souza. A indústria de São Paulo, no entanto, afirma que não há espaço para repassar esse custo.

Economistas prevêem que a inflação medida pelo IPCA ¿ que baliza a meta de inflação do governo ¿ sofrerá impacto de 0,07 ponto percentual por causa do reajuste dos combustíveis, distribuído entre outubro e novembro.

Atacadistas dizem que o repasse é inevitável

Já os Índices Gerais de Preços (IGPs), dizem os especialistas, serão impactados em 0,18 ponto percentual, porque o diesel pesa mais em sua composição, que inclui atacado e varejo.

¿ Sabemos que haverá mais aumentos, para, no mínimo, melhorar a defasagem da Petrobras em relação à cotação internacional do petróleo. O perigo é o repique da inflação no próximo ano ¿ diz o economista Elson Teles, da Fides Asset Management.

¿ Se os próximos reajustes não forem feitos até 15 de novembro, haverá pressão inflacionária em 2005 ¿ afirma Paulo Brück, do Instituto Fecomércio-RJ.

O setor atacadista é categórico: garante que o repasse é inevitável, em razão do intenso uso do diesel para o transporte das mercadorias. Cerca de 70% da safra do país são transportados por caminhões.

¿ O frete vai subir entre 2% e 3%, o que vai se refletir no custo final dos produtos ¿ estima Souza, da Bolsa de Alimentos do Rio.

Economistas acreditam que o Copom, na reunião da semana que vem, aumentará a taxa básica de juros (Selic) em 0,25 ponto percentual, para 16,5% ao ano. Eles alertam, entretanto, que os reajustes de combustíveis devem tornar praticamente inviável o cumprimento da meta de inflação de 5,1% para 2005. Segundo o economista Carlos Thadeu Freitas, ex-diretor do BC, a solução seria flexibilizar a meta para 6%:

¿ Assim a dívida pública não aumentaria e o crescimento da economia não seria estancado.

Fiesp se preocupa com perspectiva de novo reajuste

O economista da Fundação Getúlio Vargas (FGV) Carlos Langoni diz que o governo deve aproveitar a trégua da inflação para reajustar gradualmente os preços dos combustíveis, evitando a pressão da alta de preços em 2005.

Em razão da fraca demanda no mercado interno, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) não vê espaço para o repasse.

¿ O mercado está muito fraco. Isso (o reajuste) terá de ser diluído internamente ¿ afirmou Nilton Bastos, do Departamento de Pesquisas Econômicas da entidade.

Segundo ele, o que preocupa é a perspectiva de novos reajustes até o fim do ano:

¿ Contamos com a capacidade do governo de administrar esses reajustes para evitar uma disparada da inflação.