Título: TÁVOLA REDONDA
Autor: Tereza Cruvinel
Fonte: O Globo, 14/05/2005, Panorama Político, p. 2
Foi do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, a sugestão que pode resultar numa das melhores iniciativas do presidente Lula em política interna, esta trincheira onde inacreditavelmente o governo tem levado tanto chumbo, inclusive de pelotões aliados. Trata-se da reunião de quarta-feira para a qual foram convidados os membros da Mesa, os líderes aliados e os da oposição.
Lula não apenas aceitou a idéia de buscar um diálogo institucional com a Câmara mas encarregou Severino de fazer os convites. Começando pela negação de hostilidades entre os dois poderes (alimentadas pelo excesso de MPs e agora pelo veto ao aumento dos servidores do Legislativo), Lula proporá a negociação de uma pauta de votações para este ano. Apresentará suas prioridades mas dirá que o Executivo não pretende ter o monopólio da agenda legislativa nem cooptar ou imobilizar a oposição, pedindo que ela também apresente seus temas preferenciais. E é mesmo importante que o ano legislativo de 2005 não seja contaminado pelo ano eleitoral de 2006, deixando de aprovar as matérias de interesse do país.
Não será uma reunião fácil mas dela pode surgir uma hora nova, que ponha fim ao ambiente de nau sem bússola que se estabeleceu na Câmara, diga-se em favor da oposição causado em grande parte pelos problemas do governo com sua base. Mas foi muito positiva a aceitação do convite pela oposição.
¿ Como líder do PFL eu não poderia me recusar a participar de uma reunião que, até onde sei, buscará a superação do bloqueio legislativo na Câmara. Converso sobre tudo o que for do interesse do país ¿ diz Rodrigo Maia.
O líder da minoria, José Carlos Aleluia, também pefelista, segue o tom:
¿ Se vamos discutir a relação entre os dois poderes, a recusa seria, mais que uma grosseria, uma negligência política.
O do PSDB, Alberto Goldman, não vê razões para boicotar um diálogo institucional. O deputado Francisco Dornelles, do PP de Severino Cavalcanti, diz que Lula acertou ao aceitar o convite de Severino, que a seu modo só quer ajudar.
¿ Todos perdem quando o Legislativo e o Executivo não se entendem, quando as votações não acontecem, quando há obstrução e negação do direito de divergir. Será um bom passo do presidente Lula.
As prioridades do governo são conhecidas, destacando-se a reforma tributária, a emenda das agências reguladoras e a do Fundeb (que já está no Gabinete Civil). A oposição, naturalmente, dirá que um novo ritmo na Câmara só será possível se o governo moderar na edição de medidas provisórias que vivem trancando a pauta. Para isso, diz Goldman, o governo terá que enfrentar logo a negociação da mudança do rito, já proposta em projeto do deputado Sigmaringa Seixas.
Mas antes ainda de quarta-feira, Lula terá que garantir o mínimo de unidade entre os aliados, obtendo um cessar-fogo amigo. Na terça-feira, os partidos da coalizão vão se reunir sem o PT para discutir a relação com o partido e o governo. Se aliados e petistas forem discutir na frente do presidente e da oposição, não sairá nada que preste do encontro.