Título: Uma campanha atropelada pelo uso da máquina
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Fonte: O Globo, 14/05/2005, O País, p. 8

CONDENAÇÃO POR CLIENTELISMO: GAROTINHO TAMBÉM ACUSOU PREFEITO DE CAMPOS, SEU ADVERSÁRIO, DE COMPRA DE VOTOS Na reta final da disputa, governo do estado distribuiu Cheque Cidadão, cestas básicas, kits escolares e até casa a R$1

Diante do risco de perder a hegemonia em seu berço político, o presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho, e a governadora Rosinha Garotinho concentraram todos os esforços ano passado nas eleições municipais de Campos. Empenhada na campanha de Geraldo Pudim (PMDB), derrotado por Carlos Alberto Campista (PDT), Rosinha chegou a levar parte de seu Secretariado para a cidade uma semana antes da disputa, marcada por denúncias de uso eleitoral das máquinas dos governo do estado e da prefeitura.

Mais do que a disputa local, estava em jogo o futuro político de Garotinho, que nunca havia perdido em casa. Nas semanas que antecederam a eleição, o governo do estado distribuiu Cheque Cidadão e kits escolares e cadastrou eleitores para a entrega de casas a R$1. Garotinho acusou Campista e o então prefeito, Arnaldo Vianna, um ex-aliado, de também usar a máquina da prefeitura.

A 13 dias da eleição, o estado iniciou um recadastramento em Campos para a distribuição de casas a R$1 pelo Morar Feliz. Grandes filas se formaram em diversos pontos, com pessoas carentes esperançosas de conseguir moradia. O recadastramento foi feito só no município. Na mesma semana, o governo mandou para Campos kits escolares para 82 mil alunos. Em frente às escolas, cabos eleitorais pediam voto para Pudim.

Governo ignorou ordem judicial

A situação chegou a tal ponto que a juíza Denise Appolinária, a mesma que ontem decidiu pela inelegibilidade de Garotinho e Rosinha, proibiu os programas sociais em Campos. Mas a proibição foi ignorada. Em 24 de outubro, O GLOBO flagrou a distribuição de Cheque Cidadão na Favela Tira Gosto.

Vinte dias antes das eleições, foram apreendidas 245 cestas básicas que seriam distribuídas em sacolas com a inscrição ¿Família saudável¿, nome de um programa do Instituto Visão, ONG que tinha Garotinho, Rosinha e os nove filhos como garotos-propaganda. Quando as cestas foram distribuídas, Garotinho ainda era secretário estadual de Segurança.

A uma semana do segundo turno, a Rádio e a TV Litoral de Campos foram retiradas do ar por determinação da juíza Márcia Alves do Rego. Nas duas emissoras, Garotinho dera entrevistas acusando de corrupção o prefeito Arnaldo Vianna.

O caos político às vésperas do segundo turno provocou uma situação insólita: a cidade teve dois prefeitos em menos de 20 horas. Acusado por suposto superfaturamento, Vianna foi afastado pelo Tribunal de Justiça do Rio. Geraldo Pudim, vice do prefeito de quem virou adversário, assumiu e chegou a nomear secretários. Poucas horas depois, no entanto, Vianna foi reconduzido ao cargo por uma liminar do STF.

Três dias antes da disputa, fiscais apreenderam 238 cheques na casa de Cosme Rangel do Rosário, aliado de Pudim e Garotinho. Os cheques estavam guardados em envelopes com o timbre do governo do estado. Mesmo preso, Cosme deixou a casa aplaudido por partidários de Pudim. Na noite do dia 29, dois dias antes do segundo turno, oficiais de Justiça flagraram na sede do PMDB dirigentes do partido distribuindo R$318 mil em espécie para cerca de 50 pessoas. Garotinho estava no lugar e alegou que o dinheiro era ¿todo certinho¿. Para a juíza, porém, não há qualquer comprovação da origem do dinheiro.